Algumas notas sobre o banimento do Trump no Twitter. Por Orlando Calheiros

Por Orlando Calheiros – @AnarcoFino

Algumas notas sobre o banimento do Trump e outras contas das redes sociais. Primeiro, é fundamental lembrar que as redes sociais não são um ambiente neutro, são ferramentas que pertencem a corporações, como tais, refletem os interesses destas corporações.

Essa naturalização das redes enquanto “ambientes neutros” nos impede de compreender o seu real impacto nas nossas vidas, como, por exemplo, seus algorítimos transformaram radicalmente a política mundial nos últimos 10 anos.

A emergência (e normalização) de figuras de extrema-direita é uma consequência direta disso – mas também o clima de beligerância generalizada entre os usuários. Eu e outros tantos falamos sobre isso constantemente – eu, inclusive, pesquiso isso.

Sempre existiu um questionamento fundamental: por que o Facebook é capaz de censurar um mamilo ainda no momento da postagem, mas foi incapaz de impedir que um massacre fosse transmitido ao vivo (Nova Zelândia) ou a promoção de uma campanha genocida (Myanmar)?

O questionamento levou a uma constatação óbvia: Por diversos motivos, a moderação de determinados conteúdos sempre foi um fato secundário ou terciário nessas plataformas.

O primeiro deles é o óbvio: conteúdo político, especialmente os mais polêmicos e revoltosos, gera engajamento. Não é coincidência que a explosão das redes sociais esteja no cerne de movimentos como a Primavera Árabe, Occupy Wall Street e as “Jornadas de Junho”.

E, nos anos seguintes, se tornaram a principal plataforma de difusão de ideias e políticos de extrema-direita. Trump e Bolsonaro, por exemplo. Inclusive, a utilização das redes por estes políticos vai muito além da publicidade, elas foram (e são) utilizadas para nos manipular.

Pense aqui no escândalo da Cambridge Analytica, por exemplo, que deixou claro que nossos dados estão sendo utilizados deliberadamente para manipular os resultados eleitorais (campanha do Trump e Brexit).

Como resultado destes processos, companhias como Facebook e Google passaram a enfrentar resistência política, inclusive, ameaças de sanções legais. Afinal, o desenho de suas plataformas – que, friso, é intencional – estava impactando na macro e micropolítica mundial.

De lá para cá esse tipo de pressão só cresceu, com pessoas cobrando normas claras de moderação, responsabilização por conteúdos publicados e transparência sobre coleta e uso de dados pelas plataformas.

Facebook, por exemplo, vem, desde 2016, lutando contra processos de regulação na União Europeia. Google também se vê ameaçado por processos antitrust movidos pela Comissão Europeia.

Como um aceno, Facebook e Google, adotaram algumas poucas medidas. O Facebook, por exemplo, já no ano passado passou a banir contas relacionadas ao qAnon. Youtube passou a desmonetizar vídeos que traziam conteúdos políticos “controversos”.

Tanto que já tem um bom tempo que grupos de extrema-direita (aqui e lá fora), tentam emplacar uma nova rede social. Pois eles sabem que precisam desse aporte ou vão se tornar – como sempre foram – uma subcultura marginal na internet, ao mundo dos chans.

O banimento da conta do Trump não é um ato isolado, muito pelo contrário – só quem não acompanha os movimentos políticos das empresas diria tal coisa -, trata-se de um movimento de autopreservação das empresas diante das crescentes pressões regulatórias.

A União Europeia ou os Democratas não ligam para o massacre dos Rohingya, agora, a invasão do capitólio, isso instaura um novo patamar, toda uma urgência na discussão sobre a regulação das empresas do Vale do Silício.

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