Por Reynaldo Costa.
Acampados desde 9 de junho de 2018, cerca de 150 famílias que fazem parte do acampamento Marielle Franco, em Itinga (MA), viveram um ano intenso de muitas lutas, resistência e produção. A perspectiva agora é avançar na organização e ampliar ainda mais a produção de alimentos.
Questionados sobre o resultado da produção, todos os trabalhadores ou trabalhadoras mostram sempre o mesmo sentimento: a satisfação de ter os barracos cheios de alimentos e a expectativa de, na próxima safra, produzirem ainda mais.
“Todas as roças cultivadas produziram muito bem”, afirma Edivaldo Sousa, acampado desde o primeiro dia de criação do acampamento. “Se Deus quiser, ano que vem a produção vai ser maior”, concluiu, agradecendo aos céus e à natureza pelo alimento concretizado com o esforço da terra e das mãos dos trabalhadores.
Foram produzidos cerca de 60 hectares de alimentos, sendo a principal a do arroz, onde se calcula um resultado de cerca de 80 toneladas do grão, uma média de 33 sacas por hectares. Este resultando é uma prova da importância do alimento para o sustento da comunidade.
Outro item produzido em larga escala foi a abóbora, com os cálculos avaliados na possibilidade de colheita de cerca de 25 toneladas do produto. Feijão e milho também tiveram uma boa produção, enquanto a macaxeira se destaca por estar presente na plantação de praticamente todas as famílias do acampamento.
Produção diversificada
É natural da agricultura familiar o cultivo consorciado de diversos produtos. No caso do acampamento Marielle Franco, praticamente todas as roças cultivadas trabalhavam ao mesmo tempo e no mesmo espaço, principalmente arroz, feijão, milho, abóbora, macaxeira e fava, além de outras culturas do ramos das hortaliças como tomate, pepino, maxixe, quiabo etc. Tudo produzido sem veneno.
A produção diversificada mostra a capacidade da agricultura familiar de produzir alimentos, e é resultado das experiências históricas da relação de respeito do trabalhador rural com a terra, como defende Edivaldo Silva, técnico agrícola.
“Além do fato de produzir mais alimentos em um espaço menor de lavoura, a produção consorciada é um cuidado com a terra, porque nem todos os produtos são colhidos ao mesmo tempo e os que precisam de mais tempo para o seu desenvolvimento vão protegendo a terra e mantendo-a coberta e úmida por mais tempo. É o caso da macaxeira, da fava e do feijão guandu”, afirmou o técnico.
Em um ano de existência, as famílias do acampamento Marielle Franco tiveram uma vida bem ativa, participando de todas as manifestações em defesa da reforma agrária e da democracia realizadas nas cidades da região, além de consolidar a relação com a sociedade urbana, realizando feiras e exposição de produtos. Juntas, as famílias aprofundaram o debate sobre produção de comida em uma região onde o agronegócio está acabando com grandes produções de gado para dar acesso à soja e ao eucalipto.
Resistência
Os acampados vivem em constante alerta devido as possibilidades de despejos. Durante todo esse ano de atividade, foram várias as tentativas de despejar as famílias, algumas delas de forma forçada. Foi a necessidade de ter a terra como saída para a crise econômica que fez do acampamento Marielle Franco um símbolo de resistência na região, chegando a este aniversário com a esperança e o sonho de um novo dia firme.
Luta, resistência e produção de alimentos saudáveis são a marca construída todos os dias por mulheres e homens do acampamento Marielle Franco.