Por Jonas Furtado, direto de Austin (EUA).
O SXSW tem se tornado um evento cada vez mais cobiçado principalmente por ser visto como uma espécie de templo de soluções inovadoras, com potencial para mudar o jogo nas mais variadas categorias de produtos e segmentos da economia.
A atração exercida por esse caráter disruptivo do evento é tamanha que acaba por ocultar por muitas vezes o verdadeiro valor da tecnologia: servir como um agente transformador da qualidade de vida das pessoas mundo afora. E isso passa necessariamente pela inclusão do que acostumamos a chamar de “minorias”.
São muitos os painéis e apresentações no SXSW concebidos sob essa temática, dentro de um universo muito mais amplo do que o do marketing e das marcas – e por isso mesmo com grande impacto sobre qualquer mercado, uma vez que afetam a vida de todos os consumidores, e não apenas do seu público-alvo.
Veja bem: não se trata, aqui, daquele velho truque de incorporar ao plano de comunicação questões como o empoderamento feminino. Não é uma questão de posicionamento de marca, mas, sim, de realmente fazer a diferença com ações e posturas que ajudem a enterrar estereótipos e abram as portas para um futuro mais igualitário e heterogêneo para nossa sociedade.
“É muito fácil para as empresas dizerem que defendem causas relacionadas às mulheres, crianças, ou animais, mas isso é uma obrigação. Não acho que devam ser aplaudidas por isso”, afirmou Molly Swenson, chefe executiva de operações da Ryot, durante o painel “As marcas podem ser ativistas?” – no qual todos os participantes foram unânimes ao criticar o que chamaram de onda do “female washing”, ou quando uma marca tenta associar sua imagem a causa do empoderamento feminino, mas apenas como uma forma de promoção e sem ações consistentes o bastante para merecerem tal chancela.
Sasha Markova, diretora criativa da Mother, de Londres, defendeu uma nova abordagem para as questões sociais, com o intuito de angariar maior atenção e simpatia para tais causas. “Minha opinião certamente causará polêmica, mas essas questões são abordadas de uma maneira muito chata. Defendo que deveríamos fazer isso de forma mais divertida, mais dinâmica, da mesma maneira como, por exemplo, como os comerciais para vender carros”, comparou. “É preciso contar histórias melhores, mais interessantes”.
Racismo e publicidade
Uma das palestras com viés social mais impactantes de todo o programa do evento até aqui recebeu o título de “se você trabalha com publicidade você pode ser um racista”. Ao longo de uma hora, o estereótipo de raças na publicidade foi amplamente debatido. A base da discussão foi: que diabos uma agência quer sinalizar quando se proclama ser uma agência multicultural – uma classificação muito comum nos estados unidos, onde também existem as agências voltadas para o mercado hispânico.
“Será que a base da felicidade de um latino, ou de um afro-americano, é tão diferente assim da base da felicidade de um branco?”, questionou Don Perry, CEO da Digital Diaspora Family Reunion. “Ao longo dos anos, as empresas e a sociedade perderam muito porque marginalizaram muitos.
Para uma companhia em busca de ser lucrativa e sustentável, a única cor que deveria importar nesse caso é o verde, do dólar.”
A opinião de Perry teve o endosso de Louis Moses, presidente de diretor criativo da Moses Inc. “As marcas e agências se preocupam muito mais com fatores externos, superficiais, do que com emoções internas, que são comuns a qualquer ser humano”, disse.
A polêmica recente envolvendo o CEO global da J. Walter Thompson, Gustavo Martinez (alvo de um processo por racismo e ofensas sexuais nos Estados Unidos, na corte federal de Manhattan), foi lembrada – e Arwa Mahdawi, chefe executiva de inovação e criação da Cummins & Partners não mediu as palavras para comentar o caso.
“Estou realmente feliz que as pessoas tenham a coragem para denunciá-lo”, comemorou. “É essa a atitude correta quando queremos mudanças verdadeiras”.
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Fonte: Nação Z