A virada à direita segue a passos largos no segundo governo Dilma

Dilma-e-Lula

Por Bruno Lima Rocha.*

Neste breve artigo, constato o estelionato eleitoral de um governo que já recomeça contra as cordas e disposto a ceder quase-tudo para fazer quase-nada. Mesclando notas que saíram na Folha e na CartaCapital, a lógica da virada à direita na economia seria inevitável. Vejam a natureza dos gastos, cuja intenção é permitir o pagamento da dívida pública – maior gasto corrente do orçamento da União.

Ao que parece agora saiu a equipe econômica, ao menos os jornais de envergadura do país deram como certa. O trio de ferro nas pastas da área econômica, já indicado e supostamente com o aceite dos operadores é: Joaquim Levy (atualmente executivo do Bradesco, mas um Chicago Boy de carteirinha e parceiro de trajetória de Armínio Fraga); Nelson Barbosa (um desenvolvimentista, mas que, segundo os próprios jornalões, gosta de apertar o cinto nas contas públicas), e, concluindo, com a permanência de Alexandre Tombini (o mesmo que vem comandando a alta dos juros da taxa Selic seguidamente) na presidência do Banco Central.

Entre as medidas que estavam em processo de elaboração estão cortes de despesas com:

– seguro-desemprego

– pensões por morte

– abono salarial.

Tudo isso deve ser para adoçar a boca da indústria, já que a Confederação Nacional da Indústria (CNI) virou come e dorme da Presidência e da Casa Civil. A linha mestra, ainda citando a matéria da Folha (22/11/2014 – assinada por Valdo Cruz), é retomar o controle de gastos – de forma lenta e gradual – para retomar a economia de gastos (visando o superávit primário!) e, segundo o Planalto, evitar a recessão no país.

A manobra é simples. Diante de um emparedamento no front político (institucional), diante do castelo de cartas a ruir com os efeitos prolongados da CPI da Petrobrás – e o andamento da Operação Lava Jato – a meta seria ampliar as concessões. Tal análise é compartida no artigo de Carta Capital, assinado por André Barrocal (datada de 21/11/2014), e é (seria) a síntese do Bismarckismo em sua nova fase. Aumentam as concessões públicas – destravando a infra-estrutura em setores-chave – como em ferrovias, portos e mais aeroportos, o Estado entra com fundos garantidores e o crescimento tem como protagonista o setor privado. Isto é, caso a Polícia Federal (PF) não entre em ação novamente e danifique a imagem e a possibilidade de protagonismo dos setores envolvidos com a alienação de patrimônio mediante contrato (concessões).

Com a sinceridade política e analítica que é característica deste que escreve, fica o questionamento clássico. Quem está tomando estas decisões? Ou, sendo ainda mais direto, a quem a presidente reeleita escuta já que nem Aloizio Mercadante – seu grão vizir anunciado – estaria a favor destas indicações? Logo, o conceito de fundo é a questão clássica da politologia contemporânea: – Quem governa? Será que a presidente só ouve os “conselhos”, ou leva em conta as indicações do ex-presidente que, segundo o próprio, nunca foi de esquerda.

Ainda que não queira mesclar a posição normativa com um tom panfletário, vejo estas decisões como mais do mesmo, a já costumeira posição do PT no governo de fazer campanha por esquerda e governar por direita. Concordando com eleitores de ambos os lados – a quem este que escreve vem escutando regularmente – tal fato caracteriza estelionato eleitoral.

*Bruno Lima Rocha é formado em jornalismo pela UFRJ, mestre e doutor em ciência política pela UFRGS. Concentra seu trabalho nas áreas de movimentos populares, organizações políticas, análise estratégica, estudos dos órgãos de inteligência e economia política da comunicação.

Artigo enviado pelo Autor, originalmente publicado no site Estratégia & Análise.

Fonte: Portal EcoDebate

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