‘A PM vai ter que me engolir’, diz soldado ameaçado por beijar um homem

 

Prior denunciou ameaças na Ouvidoria das polícias | Foto: Arthur Stabile/Ponte Jornalismo

Por Arthur Stabile e Paulo Eduardo Dias.

“Você pode confiar”. O lema da Polícia Militar do Estado de São Paulo é usado em campanhas para a população segurança de que tem um braço forte amigo ao seu lado. Mas a frase não se faz valer sempre, nem para todos. Bastou um vídeo para o soldado Leandro Barcellos Prior, de 27 anos, ser ameaçado pelos próprios irmãos de farda. O motivo? Ele deu um selinho em um homem no metrô de SP e a imagem viralizou na internet.

“É como se eu tivesse no olho de um furacão. Tenho recebido apoios, mas são mais comentários homofóbicos depois da repercussão. E o apoio é para mim quanto Leandro, não como soldado Prior”, conta Prior, em entrevista para a Ponte. Ele recebeu afastamento de um mês após avaliação psicológica da corporação sendo que, na semana passada, pediu licença médica por conta de uma crise depressiva por conta do vazamento do vídeo.

O vídeo mostra Leandro de farda apoiado em uma parede do vagão. Após um tempo, ele se afasta da parede e dá um selinho no homem em sua frente, imagem filmada por um desconhecido em sua frente, que publicou o vídeo na internet. As imagens geraram as reações: de membros da Rota, como denunciado pela Ponte, e cobrança de respeito à farda do governador Márcio França.

Um caso foi do sargento Renato Nobile, ao publicar que Leandro deveria “morrer na pedrada”. Em entrevista para a Ponte, Nobile declarou que seu perfil no Facebook havia sido “invadido” e que “não tenho problema com nada, tenho até parente homossexual”, se defendeu.

Leandro denunciou as ameaças na Ouvidoria das Polícias de São Paulo nesta terça-feira (10/7) e registrou um boletim de ocorrência por injúria e ameaça por conta da publicação específica do sargento da Rota Renato Nobile.

“A máscara da homofobia da instituição caiu. Hoje ela mostra a sua verdadeira faceta, a do preconceito, do ódio, a da não aceitação”, critica o soldado, negando que tenha intenções de deixar a corporação. “A PM de São Paulo vai te que me engolir”, disparou, alegando também ter recebido mensagens de apoio de policiais.

O policial está afastado de suas funções no 13º Batalhão (situado em Campos Elísios, na região central de São Paulo) desde que o caso ganhou repercussão. E não sabe por quanto tempo. “Ainda não acredito quando eu possa retornar. Vou ser avaliado por uma junta psiquiatra (primeiramente de servidores do Estado e após uma junta militar) e ela que vai avaliar se estou apto ou não. Então, eu ainda não sei quando vai ser minha volta e como será. Ainda é incerto”, disse, antes de saber do afastamento de mais um mês.

De acordo com o ouvidor das polícias Benedito Domingos Mariano, o depoimento prestado pelo agente será remetido para a Corregedoria da PM. “Vou encaminhar e vamos acompanhar. As ameaças são de conotação homofóbica. Penso que a Corregedoria da PM tem que dar atenção e acompanhar especialmente este caso”, disse Mariano. No órgão há cinco meses, ele afirmou ter sido a primeira vez que recebeu uma queixa deste tipo.

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