Por Guigo Ribeiro, para Desacato.info.
É
É!
É fila
É a fila
É o todo
É um tanto
É a fila feita
É a fila e forma
É a fila nascendo
É a fila crescendo
É a fila sendo feita
É a fila nascendo ali
É a fila das máquinas
Chega uma, duas e três
Vão chegando e ficando
É a fila de máquinas juntas
A fila das máquinas em crise
É a fila das máquinas em silêncio.
A fila para chegar ao ponto da bomba
Um silêncio rompido por gritos de raiva
A explosão pelo que não foi atendido logo
A fila para chegar ao ponto da bomba e pôr
A fila para fazer correr as máquinas para um lugar
A fila para fazer correr as máquinas para qualquer lugar
Para correr após ter gritado pelo vazio de não poder correr
A fila que reúne todos os que pensavam ser únicos em suas máquinas
O vazio de não conseguir andar mais e ter que esperar pra dar dinheiro
É a junção numa fila de tantas máquinas bonitas e tão tristinhas já que estão
Já que estão juntas formando algo juntas e não mais tão só reinando só no asfalto
Máquinas tão tristinhas formando uma fila que de tão tristinhas, tão tristinhas estavam
Nem amizade se atreveram a fazer enquanto abrigavam seus donos impedidos de andar
Mas ouviam com a atenção freudiana sua lamentação sobre prestação e o poço: esse país
E como tanto se diz, estava e ficava nas mãos belas de quem fora tão pronto enorme solução
Então a fila se completa para ser o que é e manter organização na desorganização vigente ali
E a fila está pronta para expor que quem ME impede ter o MEU acesso ao MEU combustível
É safado, vagabundo e oportunista já que meu interesse não foi, veja bem, NÃO FOI FEITO!
A fila apresenta lamentações como a dos boletos numa fila de ar condicionado bancário. Voa
A fila exprime ordem ao tempo: Voa! Para que possa atender as demais demandas e o tempo
A fila aquieta os maiores ímpetos de desordem e quando o carro, enfim, bebe de seu néctar
Vai se desfazendo de sua enorme fúria para com os que me tiraram do que sempre faço
E vai se desfazendo de suas frustrações para poder voltar ao cotidiano normal e feliz.
Enfim feliz com o tanque cheio. Enfim feliz, de volta à esteira. Olha só! Bem estar!
Chega o carrão brilhando em vermelho e o carrinho suado para conseguir pagar.
Dono faz carão e na máquina carinho visto que encheu seu tanque para rodar.
Mais uma vez abraçou a sua própria dependência em um dia normal.
E reparou a fila diminuindo pouco a pouco e, também, rapidamente.
Conforme olhava e sorria ao constatar que lá ficou muita gente
Conforme olhava pelo meu retrovisor e acelerava rápido
Conforme pisava com os pés de blocos no acelerador
A fila acabou tão quanto o tamanho da indignação
“Bagunçaram o funcionamento da nação à toa!”
“Deixaram os hospitais sem medicamentos.”
“Por culpa deles a comida vai aumentar!”
“Por culpa deles a comida vai acabar!”
“Comprometeram que precisava!”
“Indignado com tudo isso!”
Mas foi passando a raiva.
E foi ficando no caminho
E foi ficando o caminho
Ficando em sua solidão
Fica então sua solidão
Só então na sua solidão
Então sua solidão
Fica então
Sozinho
Solidão
Só!
Só
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