A emancipação da mulher: maternidade e maternalismo. Por Bruna Weber Botta.

Por Bruna Weber Botta.

De primeira vista parece ser a mesma coisa, ser a mesma palavra, mas apesar das estruturas das palavras serem parecidas, elas têm significado completamente diferentes.

A palavra maternidade é a qualidade de ser mãe, é um fato e é natural.

A palavra maternalismo é uma construção de cunho social e principalmente econômica por pessoas de certa classe social, de certa cor e com um objetivo ideológico que atravessa a maternidade ainda nos tempos atuais.

O discurso maternalista se criou no final do século XVIII virada para o século XIX.

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Com isso a burguesia reorganizou não só a política econômica mas também a família de maneira que lhe era mais conveniente.

Ao invés da mulher viver em sociedade, agora ela passa a trabalhar em casa e cuidar do lar, do filho e da família.

A lógica é a seguinte, enquanto o proletariado, homem, é explorado pela burguesia, existe uma outra classe sendo explorada pelo proletariado. Nós, as mulheres, que por conta de um suposto instinto materno passamos a desempenhar o trabalho de cuidar da família “por amor”, o que nos aprisionou dali em diante.

Durante todos esses anos, até os tempos atuais conhecemos mulheres, talvez nossas mães, seguramente nossas avós, que o trabalho laboral de cuidar de um lar nunca foi remunerado, pelo contrário, a ideia era de punir a mulher que não trabalhava para seu marido e para a ordem e harmonia do lar. Ideia essa que ainda circula nas rodas de conversas e é muito forte na sociedade atual.

Essa ideologia é base de discursos que atualmente ainda garantem a criminalização, o repúdio e o desleixo com a vida e a saúde física e mental da mulher.

Um exemplo desse discurso maternalista, que está em nossos ares, se apresenta em mulheres que são contra a descriminalização do aborto. Se pensarmos por um raciocínio lógico de fatos e dados, nós somos as que deveríamos estar mais interessadas no assunto da descriminalização do aborto no Brasil.

Há duas falas que são reproduzidas por mulheres que se dizem contra o aborto e tem origem no maternalismo criado pela classe burguesa opressora.

O primeiro é que o aborto é tipificado como crime no Brasil. Pois bem, levando em consideração a saúde da mulher, o aborto ser um crime demonstra o conservadorismo da sociedade patriarcal brasileira que menospreza o avanço humanitário de países que já legalizaram e descriminalizaram o aborto. Esses países diminuíram drasticamente o número de abortos por terem o respaldo do Estado. Então ao invés de um argumento para a não descriminalização, por obviedade toda mulher deveria ser a favor, assim como bem fizeram as hermanas argentinas há pouco tempo.

O outro pilar que sustenta o discurso maternalista é o da religião, muitas mulheres vão dizer que é pecado e perante o argumento de deuses, ou de um único deus, o que torna difícil continuar o debate em uma linha racional, lógica e baseada em fatos e dados.

Um dado importante que a filósofa e historiadora francesa Elizabeth Badinter traz em sua obra intitulada: “Um amor conquistado, o mito do amor materno”, é o relato de um tenente de polícia, em 1780 na França, em que ele diz que de 21 mil crianças que nasceram em Paris, um mil foi amamentada pela mãe, outros um mil foram felizardos por serem amamentados por amas de leite que eram residentes nas casas dessas famílias, e as outras dezenove mil eram criadas por amas de leite mercenárias, que viviam nas periferias de Paris. As mulheres tinham filhos e deixavam com outras mulheres para viver suas vidas na sociedade comunal sem problema nenhum, a maternidade era assim, não era segredo e não tinha nada escondido.

O que as autoras Vera Iaconelli e Elizabeth Bandinter se esforçam em trazer em suas obras, em suas entrevistas e palestras, é um lugar de respiro para as mulheres e sobretudo mães do século XXI.

Hoje, sem sombra de dúvidas, vivemos em uma sociedade que a maternidade tem muito mais afeto que nos séculos passados, mas que atualmente o neoliberalismo embasado pela burguesia do século XVIII, dita que se a mulher quer ser mãe então ela tem que ser mãe “padrão ouro”, e esse padrão é: branco, com relacionamento heteronormativo, bem sucedidos financeiramente e que disponibilizem de “tempo de qualidade”. Algo da ordem do impossível para a grande maioria das mulheres trabalhadoras.

Para o neoliberalismo a maternidade da mulher negra, periférica, não é um bom exemplo e serve apenas para estatísticas sociais.

Pois bem, então chegamos a conclusão que o instinto materno é mais uma ferramenta capitalista de oprimir, explorar e criminalizar a mulher.

Portanto, lutar por direitos para as mulheres é fundamental para a emancipação não só nossa e das futuras gerações, mas da memória de todas as mulheres que morreram queimadas e abriram caminho nesses trezentos anos de história para nos permitir estar aqui falando abertamente sobre um assunto tão estigmatizado.

Mulheres, lutemos unidas para que o capitalismo explorador e opressor seja eliminado!
Vida longa ao feminismo!

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