Por Juliano Medeiros.
Na extraordinária obra A crise da ideologia keynesiana, Lauro Campos demonstra toda a atualidade da perspectiva marxista sobre a economia política. E o faz tecendo uma crítica implacável ao que denominou ideologia keynesiana, cujo papel seria o de sustentar um Estado capaz de “preservar as relações capitalistas, evitar o crescimento das forças produtivas, fazer com que o capitalismo sobreviva a si mesmo”.
No entanto, desde que Lauro Campos desenvolveu sua crítica ao capitalismo keynesiano, no começo dos anos 1980, o Brasil e o mundo viveram profundas transformações. O desmonte dos sistemas de proteção social do chamado welfare State, na esteira da implantação do mais destrutivo neoliberalismo em diferentes países, gerou um colapso profundo do consenso keynesiano, fazendo ressurgir, diante dos efeitos nefastos da mundialização, certo “estatismo” entre aqueles economistas outrora identificados com a crítica radical desenvolvida por Marx ao caráter intrinsicamente capitalista do Estado sob a sociedade de classes. Quem, então, teria condições de sustentar um questionamento tão radical à perspectiva keynesiana num momento em que essa ideologia, frente à catástrofe neoliberal dos últimos anos, tornou-se uma enganosa porta de saída à crise que se abateu sobre o mundo, prometendo crescimento, emprego e segurança econômica? Apenas intelectuais como Lauro Campos conseguiriam, quase quatro décadas depois, ter sua obra reeditada com tanta atualidade.
No caso brasileiro, em que as promessas de “desenvolvimento” se viram frustradas pela triste realidade de nossa integração subordinada ao sistema-mundo, criticar a ideologia keynesiana torna-se mais do que uma necessidade: é uma obrigação entre aqueles que defendem uma nova forma de organizar a produção e a vida em sociedade.
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Fonte: Blog da Boitempo.