Após o Hamas ter liberado, no último sábado (08), três “israelenses” apreendidos, temos visto várias manifestações na mídia hegemônica e, portanto, pró-sionismo, a exemplo de reportagem da Folha/Uol afirmando que a tomada de reféns do Hamas é crime de guerra agravado por crimes de tortura, expressando o assombro, o pasmo, a indignação com as condições físicas dos “israelenses” liberados, entre eles, um soldado, que provavelmente matou palestinos.
Estamos há quinze meses de um genocídio praticamente ininterrupto, que assassinou cerca de 50.000 palestinos segundo os números oficiais, porque certamente são bem mais; um genocídio que matou milhares de crianças, mulheres, homens e idosos de fome, de sede, de bombardeio, de soterramento e que faz sofrer traumas contínuos os que sobreviveram, mas a narrativa hipócrita, a comoção seletiva, a sensibilidade por um povo simultânea ao envio de armas contra outro é o que se escancara diante da compaixão pelos corpos de três homens magros, “que tristeza… quanta injustiça contra inocentes… realmente o Hamas é assassino, cruel e torturador…” vociferarão os opressores.
O que se esquece ou não se vê em razão de uma cegueira também seletiva é a condição das centenas de palestinos sequestrados que foram libertados dos calabouços e cárceres sionistas, a exemplo da ex-prisioneira política Khalida Jarrar, que em dezembro de 2024 descreveu sua cela como sendo “uma pequena caixa fechada que não permite a entrada de ar” e onde morre todos os dias por falta de oxigênio. A exemplo da terceira leva de libertados e o primeiro palestino que desceu do ônibus, em Ramallah, carregado e com ajuda de oxigênio.
E do professor palestino Ibrahim al-Shawish, libertado recentemente graças ao cessar-fogo, e seu depoimento de que, por 45 dias, foi vendado, algemado e forçado a se ajoelhar antes de ser transferido para a prisão do Negev, onde sofreu choques elétricos e ataques de cães, com rosto e corpo visivelmente torturados e esqueléticos. Está claro: todas e todos os palestinos sequestrados que estão há anos nas masmorras do inimigo saíram delas magros, desnutridos, fracos e adoecidos, só infames não veem esta tragédia.
E é preciso esclarecer, os três ex-“reféns” encontravam-se naquela situação em razão do próprio sionismo e toda sua violência, desde bombas a impedimento de entrada de comida, água, mantimentos e ajuda humanitária. Ou seja, estavam magros porque comeram o mesmo do pouco que os palestinos comiam, comeram o pão que seus diabos amassaram e sentiram na pele, na carne, o que é ser oprimido pela falta; quiçá mudem a consciência após esta experiência. Mas não sofreram tortura, espancamento, agressões; as próprias leis alcorânicas impedem este tipo de tratamento contra prisioneiros e são respeitadas pelos combatentes da Resistência.
Por fim, não temos o poder de denunciar nem o controle de impedir todas as mentiras propagadas pela mídia tradicional e falaciosa, mas temos a possibilidade de fazer refletir, de provocar a dúvida, de pesquisar o que nos chega e de impedir, ao menos, as violências simbólicas, aquelas que não matam, mas ajudam a amolar a faca. Afinal, nessa história, sabemos quem morre, sabemos quem mata. De que lado das palavras você está?
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