Por Désceo Machado, para Desacato.info.
Plimplimplim, bangbang, cabum!
Um rapaz envelhecido, da turma de 76, me contou que em uma discussão com seu pai, discussão de adolescência, teria dito que se vivessem em uma ditadura militar, ele, o rapaz, certamente seria um perseguido. Agora que o pai está morto e a ditadura se avizinha,esse conhecido começou a entender o olhar de pavor que seu pai lhe lançara.
Burocrata, empregado certo, pai de família, o rapazote quarentão não está preocupado no que lhe aconteceria se passasse para a clandestinidade e virasse um Marighella, aliás, isso nem passa pela sua cabeça. O que o preocupa é como será continuar burocrata, empregado certo, pai de família no contexto de uma ditadura militar. Seria mais confortável aquele ambiente formalmente democrático com a aparência de que as lutas sociais avançavam em conquistas sólidas, seria mais confortável para justificar e legitimar a vida familiar de consumo e o seu olhar exterior (e superior!) para o mundo da política.
“- Mas como chegamos a esse ponto?” Atônito e angustiado, ele procura um culpado, a ser encontrado logo ali. Depois de justificar e explicar os acontecimentos políticos, identificar e rechaçar os responsáveis, o gurizão grisalho se reconciliará com o pai. “- Nem tanto ao céu, nem tanto à terra”. Nem tanto ao céu, insiste em não esquecer os erros políticos de Lula e do PT que nos conduziram até aqui e não seria ele, é claro, que assumiria os erros dos outros. Nem tanto a terra, é necessário manter a dignidade nisso tudo, continua fazendo posts no facebook em defesa da democracia e dos direitos humanos, essa será sua luta, esse será o risco que correrá, o risco de ser perseguido pela expressão de suas ideias e preferências. “Não me calarão!”
E assim, testemunhamos uma melancia do discurso se acomodando com o andar da carroça. As melancias são esses discursos que servem para explicar quem somos e o que somos. O andar da carroça é o progredir dos acontecimentos. Os discursos autolegitimadores e autoindulgentes estão sempre prontos a se ajeitar, ande como ande nossa carroça.
Mas é melhor acreditar que estamos certos, mesmo havendo um leve ceticismo de que algo não vai dar certo. Será mesmo? Suspeitar dos próprios equívocos paralisa, e o mundo, agitado que é, não permite paralisia. O mundo impõe movimento. E para nos movimentarmos, precisamos seguir uma direção, uma direção certa. É preciso acreditar que estamos certos, senão… senão seríamos trágicos.
Bons dias, boas tardes ou boas noites!
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Imagem: Cliver Cooper
[avatar user=”Thiago de Castilho Soares” size=”thumbnail” align=”left” link=”attachment” target=”_blank” /]Désceo Machado é repórter em Florianópolis.