A banalidade do mal

hannah

Por Thiago Burckhart, para Desacato.info.*

A banalidade do mal é um termo cunhado pela filósofa política Hannah Arendt em seu livro “Eichmann em Jerusalém”, publicado em 1963 logo após o julgamento de Adolf Eichmann, que era um dos generais da tropa de proteção nazista. O processo de escrita desse livro é relatado no filme “Hannah Arendt”, dirigido por Margarethe von Trotta, que conta a história de Arendt na formulação de suas ideias e da tese da banalidade do mal.

Após assistir ao julgamento de Eichmann, Arendt percebeu que aquele homem que ajudou a cometer os extermínios na era nazista contra os judeus, e diversos outros grupos minoritários (como comunistas, homossexuais, eslavos, entre outros), era, na verdade, uma pessoa qualquer, um ninguém. Esse ninguém somente obedecia as ordens impetradas pelo regime, numa orquestra burocrática, sem entretanto fazer qualquer tipo de julgamento moral, visto que sua capacidade de pensar era extirpada, de modo que suas ações não eram consideradas más, para ele.

Assim foi com Eichmann e assim foi com grande parte dos burocratas dos regimes totalitários do século passado. Frutos de sociedades pautadas na frieza, no ódio e no medo – como bem relata o filme “A Fita Branca”, de Michael Haneke – essas características peculiares das sociedades daquela época refletiram-se em seus próprios regimes políticos, dando sustentação para as tragédias cometidas no século passado. Eichmann não era um monstro – como muitos pensavam naquele tempo –, mas era um simples burocrata, um funcionário moderno e eficiente do governo nazista, que jamais parou para fazer alguma consideração moral sobre suas ações cotidianas.

A banalidade do mal, assim, é a face superficial da condição humana. Arendt afirma que o fenômeno do bem é radical, pois a experiência benéfica é profunda e humaniza. Já o fenômeno do mal é superficial, ou seja, quanto mais superficial uma pessoa for, mais ela tende ao mal. Quanto mais uma pessoa seja incapaz de pensar, e portanto, incapaz de produzir julgamentos morais e éticos, mais propensa ela está a cometer o mal.

A banalidade do mal em nosso cotidiano

Apesar de ter sido publicado em 1963, o livro e o pensamento de Hannah Arendt ainda permanecem muito vivos hoje em dia. A banalidade do mal pode ser vista e sentida em nosso cotidiano, seja através da reprodução de discursos de ódio – que são diariamente difundidos pela grande massa “midiatizada” –, seja no desrespeito aos direitos humanos, ou mesmo a banalização da violência no cotidiano. A incapacidade de pensar ainda é um dos grandes problemas de nosso tempo, que produz neo-fascismos em nosso país, já que ainda é mais fácil agir que pensar.

A futilidade do consumo exacerbado, o sistema dominante que produz corrupção e desigualdades estruturais, a violência estrutural que mesmo silenciosamente destrói e aniquila subjetividades, sem contar as guerras que colocam povos contra povos ainda em nosso tempo são exemplos da banalidade do mal em nosso cotidiano, onde sem pensar, sem refletir sobre sua condição e suas ações, pessoas – os ninguéns – produzem e reproduzem o mal.

Esse mal assume feições glamorosas – sobretudo o mal midiatizado – e é produzido a partir de uma certa necessidade de afirmação perante determinado grupo social. É uma subjetividade, uma personalidade, ou mesmo uma ideologia ao contrário, que funciona como um suporte às ações perversas do dia-a-dia. Esse mal poderá ser superado pelo pensamento emancipador, pelo reconhecimento do outro como sujeito político e sujeito de direitos, entendendo que a barbaridade do mal também constrói pequenos – e, em certos casos invisíveis – campos de concentração a aparta povos, pessoas, indivíduos e sociedades de uma convivência pacífica e democrática.

*Thiago Burckhart é estudante de Direito.

Foto: Ilustração

1 COMENTÁRIO

  1. Acho que esse jovem tinha que ser mais objetivo. Quando HA fala de totalitarismo, fala contra quem quer eliminar o outro, como fazem os progressistas e socialistas. Estamos repletos de discurso do ódio contra conservadores. Não respeitam a democracia e caluniam um presidente legítimo através da grande mídia e do estamento burocrático.

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