Recebido do CMVJ.
Chefe de equipes de interrogatório do Doi e outros dois agentes da repressão prestaram depoimento à CNV, ontem, em SP
Na juventude, Anivaldo Padilha, Arthur Scavone, Carlos Russo, Derlei Catarina De Luca e Maurice Politi militaram em diferentes organizações de oposição ao regime militar. Ontem à tarde, entretanto, suas trajetórias os colocaram na mesma sala, diante do coronel Homero Cézar Machado, o temido “capitão Homero” do Doi-Codi de São Paulo, ex-chefe de equipe de interrogatório do maior centro de tortura e morte da ditadura.
Machado foi convocado a depor pela Comissão Nacional da Verdade, numa sessão testemunhada por aqueles que afirmam, sem equívoco, terem sido suas vítimas no Doi. Os ex-presos políticos relataram ter sido presos e/ou torturados por ele ou por integrantes das equipes comandadas por ele. Machado, contudo, negou as acusações.
Na portaria do prédio da avenida Paulista em São Paulo, onde ocorreu o depoimento, Derlei o avistou e ambos se reconheceram imediatamente. Fato admitido por Machado durante o depoimento. Apesar de confrontado com as informações prestadas pelas vítimas, Homero negou a tortura e repetiu os argumentos de seu ex-comandante, Carlos Alberto Brilhante Ustra, em depoimento prestado à CNV em maio de 2013. “Nós éramos agentes, delegados da instituição. Eu cumpria ordens. Quem deve dar explicações é a instituição. Ele (o comando das Forças Armadas) é quem tem de pedir desculpas à nação”, afirmou.
Derlei afirmou ter sido torturada pela equipe de Homero em 29 de novembro de 1969. “Eles me colocaram no pau de arara, e deram vários choques elétricos e ele permitiu que eles quebrassem meus dentes da frente com uma coronhada”, afirmou.
Em depoimento prestado de manhã na Assembleia Legislativa de São Paulo, numa sessão conjunta da CNV e da Comissão Estadual da Verdade, Derlei, que integra a Comissão Estadual da Verdade de Santa Catarina, explicou que, apesar de fazer parte da Ação Popular, na época um grupo de oposição que não havia aderido à luta armada, os agentes da repressão a teriam confundido com Maria Aparecida da Costa, da ALN, organização que desde o início havia decidido enfrentar o regime militar.
Por conta dessa confusão da repressão, ela acredita ter sido barbaramente torturada e, paradoxalmente, crê que isso também permitiu que ela sobrevivesse. “Eu não precisava mentir, eu realmente não fazia parte da ALN, nem sabia de praticamente nada do que eles me perguntavam. Foi a minha sorte, porque eu conseguia responder tranquilamente e proteger os meus companheiros”, disse. O depoimento de Homero foi colhido pelos membros da CNV José Carlos Dias, Maria Rita Kehl e Rosa Cardoso.