A morte do candidato Eduardo Campos coloca na disputa Marina Silva, cuja participação em um eventual segundo turno aglutinaria as forças mais conservadoras do país, podendo pôr fim a 12 anos de governos progressistas liderados por Lula e Dilma Rousseff
Por Nicolas Chernavsky.
A queda do avião em que estava Eduardo Campos, que era candidato a presidente pela coalizão liderada pelo PSB (Partido Socialista Brasileiro) mudou consideravelmente o panorama das eleições presidenciais brasileiras, cujo primeiro turno ocorrerá em 5 de outubro deste ano. A morte do candidato fez com que sua candidata a vice-presidenta, Marina Silva, fosse alçada à condição de candidata à presidência. Desta forma, a confluência de diversos fatores – o fato de Marina ter tido cerca de 20% dos votos válidos nas últimas eleições, a pouca identificação atual dela com os partidos políticos, diferentemente de Campos, muito identificado com o PSB, e a própria comoção com a morte de Campos – dá a Marina Silva o potencial de superar Aécio Neves, candidato do PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira), e no segundo turno, aglutinar os setores mais conservadores da política do Brasil, a fim de derrotar a atual presidenta Dilma Rousseff e pôr fim a 12 anos em que os setores mais progressistas do espectro político do país estiveram na liderança do Estado brasileiro, com oito anos de governo de Lula e quatro de Dilma Rousseff.
Uma questão importantíssima nesta nova configuração é o quanto Dilma Rousseff vai conseguir aglutinar os setores mais progressistas da política brasileira. A importância disso é que quanto mais o progressismo apoiar Dilma, menos espaço haverá para Marina neste setor do espectro político, e consequentemente, mais Marina terá que disputar o voto dos setores mais conservadores com Aécio Neves. Assim, se Dilma ocupar amplamente o espectro progressista, Marina terá menos chances de ir ao segundo turno, e – o que talvez seja ainda mais relevante – se for ao segundo turno, irá com uma identificação muito forte com os setores mais conservadores do país, o que reduziria suas chances de vencer o segundo turno contra Dilma Rousseff.
Uma vez que Dilma e Marina (assim como Eduardo Campos) foram ministras de Lula, parte do progressismo brasileiro poderia ter a esperança de que mesmo se Marina vencesse a eleição, pudesse ser formado um governo com uma base parlamentar progressista, inclusive com a participação do partido de Lula e Dilma Rousseff, o PT (Partido dos Trabalhadores). Entretanto, devido à dinâmica polarizadora do segundo turno, uma eventual candidatura Marina neste segundo turno seria apoiada em massa pelos partidos mais conservadores do espectro político, forjando uma base parlamentar conservadora para seu eventual governo, sem a participação do PT. De modo que o novo cenário representa um desafio político para o eleitorado brasileiro, que mesmo com a mudança da candidatura de Campos pela de Marina, continua tendo à sua frente a escolha entre um governo que formaria uma coalizão com os setores mais progressistas do parlamento brasileiro, liderado por Dilma Rousseff, ou um governo que formaria uma coalizão com os setores mais conservadores do parlamento brasileiro, liderado por Marina Silva ou Aécio Neves.
Foto: Walter Mello/A Tribuna de Santos/Folhapress
Fonte: CulturaPolítica.info
