Por Thiago Rafael Burckhart, para o Desacato.info.
Nessa última semana o país presenciou em diversas cidades a “marcha da família com deus pela liberdade”, uma reedição após 50 anos de início da ditadura militar no país. Este movimento recebeu apoio de lideranças evangélicas e são declaradamente anticomunistas e favoráveis a intervenção militar no país. Assume, portanto, fortes conotações fascista, segregacionista, totalitária, autoritária e conservadora, típicos de movimentos reacionários.
George Orwell já afirmava que na raiz do totalitarismo encontra-se a teocracia, ou seja, um conjunto de dogmas, doutrinas e ideologias que cegam o sujeito de sua sujeição ao Estado totalitário. Assim foi na Alemanha nazista de Hitler, na Itália fascista de Mussolini, na URSS totalitária de Stálin, na China autoritária de Mao Tse, e assim também foi com os apoiadores do regime militar no Brasil. Esses dogmas conclamados nessa semana nas ruas brasileiras por esse movimento são a negação das atrocidades cometidas pelo governo militar nos anos de chumbo, a negação da liberdade de expressão e da democracia brasileira, a negação dos direitos humanos e das garantias fundamentais historicamente construídos.
Nesse sentido, nasce o debate sobre a ascensão conservadora insurgente no Brasil. Uma bancada evangélica no Congresso Nacional quer impor uma moral única e religiosa a todos; grupos fascistas pedem a volta do regime militar, e o que mais está por vir? Não questiono a legitimidade desses movimentos, pois como parte da democracia e de uma sociedade pluralista todos possuem o direito de manifestar seu pensamento, desde que não interfira na seara individual de outra pessoa. Acontece que esses grupos declaradamente almejam a imposição de uma moral religiosa e autoritária no Brasil e a conseqüente negação de direitos fundamentais às minorias sociais.
O pensamento teocrático, como pilar fundamental desse movimento é também, como já dito, o pilar de regimes totalitários. É contra a teocracia que deve-se lutar, como já afirmava Espinosa no século XVII. Contra a arbitrariedade dessas forças religiosas que tornaram-se políticas e que através disso tentam controlar as questões de ordem jurídica. Contra a negação da democracia e dos direitos humanos e a favor da liberdade de expressão e da consolidação da democracia no Brasil. É a concretização dos princípios constitucionais positivados que o Brasil necessita, e não o regresso a um período das trevas.