“Eu sei que é o aniversário [da capital paulista], mas para a gente é só mais um dia. Não muda nada”, disse Eduarda Aparecida de Souza, 24 anos, moradora da Praça da Sé, no centro da cidade. Apesar de achar que não há o que comemorar, o dia foi diferente para ela e para outros moradores de rua do entorno.
Eles transformaram o ato contra o “genocídio da população preta, pobre e periférica”, organizado pelo movimento negro paulistano, em um baile de hip hop em frente à catedral. “Eu estou adorando. O rapper fala da nossa realidade. Tem muito preconceito mesmo”, disse cantarolando o verso de uma música: “Deus, olhai o teu povo sofrido”.
Um dos organizadores do evento, o rapper Pirata que faz questão de se apresentar exclusivamente desta forma, explica que o local foi escolhido para chamar a atenção das autoridades políticas que participam todos os anos, nesta data, de uma missa no interior da Igreja da Sé para celebrar o aniversário do município.
“Nós queremos que o Estado pare de matar a juventude na periferia. Queremos garantia de direito, saúde, acesso à educação, atendimento às pessoas em situação de rua. Este ato é para lembrar isso”, explicou o rapper, que faz parte do Fórum Hip Hop do Município de SP.
A programação teve início por volta das 10h, com apresentações de rappers e falas de representantes de movimentos sociais. As atividades se estendem até às 18h. A estudante Andreza Delgado, 18 anos, moradora do Capão Redondo, na zona sul, fez questão de passar o dia do aniversário de São Paulo reivindicando mais oportunidade para a população negra.
“Eu sempre senti esta violência em relação ao povo preto. Chega um momento que você assume esta consciência”, apontou. Ela integra o movimento negro há cerca de um ano. “Vivi muitas situações, como quando você é perseguida quando entra uma loja. A seleção de emprego em que você é a única a não passar”, relatou.
Para o funcionário público Airson da Costa, integrante da União de Negros pela Igualdade a comemoração dos 460 anos de São Paulo deve servir para lembrar que, durante todo este tempo, a exclusão social do negro se aprofundou e permanece nos dias atuais.
“É uma questão histórica. Houve todo um trabalho para embranquecer a população brasileira e marginalizar os negros”, criticou.
Ele defende, como forma de reparar esta condição, a adoção de política de cotas, mas também a efetivação de direitos, como saúde, educação, moradia, emprego e lazer. “A ausência dessas políticas reforça a presença do Estado letal, que mata a população negra, pobre e periférica”, complementou.
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Fonte: Agência Brasil