Sob grave crise social, Quênia celebra 50 anos de independência

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O Quênia comemorou nesta quinta-feira (12/12) meio século da proclamação de Independência do Reino Unido. No entanto, graves problemas sociais e o legado de corrupção e violência da época colonial ofuscam as celebrações ao redor do país.

Embora nas últimas décadas tenha-se realizado um processo de modernização – colocando o país em destaque econômico na África Oriental -, o Quênia não erradicou “a maldição da pobreza”, como prometeu o primeiro governo independente, de acordo com o jornal queniano The Standard. 

Segundo os dados da ONU (Organização das Nações Unidas) e do Banco Mundial , cerca da metade da população (mais de 40 milhões de habitantes) vive abaixo da linha da pobreza (pouco mais de US$ 1 por dia). O país também sofre com a desigualdade social: em Nairóbi, um dos principais distritos do país, o cenário é de contrastes entre mansões espetaculares de bairros ricos e guetos e favelas de uma maioria pobre, segundo informações da Agência Efe. 

De acordo com informações da Rede Aljaazera, massacres entre tribos rivais e mortes violentas em distritos quenianos divergem do cenário de crescimento de 5% da economia nos últimos anos – número considerado notável na África, segundo especialistas. Apenas nesta semana, oito pessoas, entre elas cinco policiais quenianos, morreram em uma emboscada de homens armados em Liboi, localidade a leste do Quênia próxima à fronteira com a Somália, de acordo com fontes policiais.

No entanto, o quadro mais grave da problemática queniana é atualmente a fome. Segundo informações recentes da ONU, cerca de 3 milhões passam fome no norte do país. Além disso, falta de infraestrutura em estradas e vias de acesso impede que ajuda humanitária chegue a pontos cruciais. Em 2011, por exemplo, o noticiário internacional repercutiu o apodrecimento de alimentos em caminhões que ficavam parados sem conseguir atravessar o país para entregar mercadoria.

Histórico 

Há 50 anos, a morte colonial foi certificada simbolicamente quando o herói da independência e primeiro presidente do país, Jomo Kenyatta, abaixou a bandeira britânica, içou a insígnia queniana e marcou essa área com a plantação de uma árvore nos Jardins Uhuru de Nairóbi.

Meio século depois, seu filho, o atual chefe de Estado, Uhuru Kenyatta, recriou aquele emocionante gesto em uma grande cerimônia com fogos de artifício. Hoje, Kenyatta liderará a celebração do Jubileu de Ouro com outro comício no estádio de Kasarani, nos arredores de Nairóbi, onde é esperado a presença de vários governantes africanos. 

“Queremos comemorar 50 anos de independência celebrando nossos triunfos e refletir sobre o nosso futuro progresso”, afirmou o presidente no último mês de outubro.

O simbólico hasteamento da bandeira nacional enterrou em 1963 um regime que começou a ruir anos atrás com a rebelião Mau Mau, surgida na tribo Kikuyu, a mais numerosa do Quênia e oriunda da fértil província central, onde milhares de pessoas foram retiradas de suas terras, entregues aos colonos brancos.

Os protestos contra as desapropriações evoluíram para reivindicações de liberdade e independência com o objetivo de acabar com o trabalho forçado, os baixos salários, os altos impostos e a discriminação racial implementados pelas autoridades britânicas.

“Os dirigentes coloniais governaram com mão de ferro”, disse à Agência Efe, a camponesa Paulina Moraa, de 80 anos, cujo pai foi obrigado a dar “uma vaca e duas cabras de multa” por certa vez se negar a pagar um determinado imposto.

Com certo ressentimento, o ex-secretário Nyaboga Phillip, de 85 anos, também não guarda uma lembrança amável da colônia: “Em Nairóbi – explica à Efe -, fomos testemunhas das proibições por causa da cor de pele. Havia dependências separadas para as três raças: brancos, asiáticos e africanos, nesta ordem de preferência”.

Fonte: Ópera Mundi. Com Pedro Alonso, da Agência Efe, rede Aljaazera, Público.pt.

Foto: Agência Efe

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