Mais da metade dos recém-formados em Medicina no estado de SP foi reprovada no exame obrigatório

O Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) realizou pela primeira vez, em 11 de novembro de 2012, o Exame do Cremesp obrigatório a todos os formandos de Medicina.

Dentre 2.411 participantes, formados em escolas médicas do Estado de São Paulo, 54,5% foram reprovados no Exame do Cremesp, pois acertaram menos de 60% da prova, ou seja, menos de 71 das 120 questões (Quadro 1).O Exame contou com a presença de 2.525 egressos das 28 escolas médicas paulistas que funcionam há mais de seis anos. Desses, 114 tiveram suas provas invalidadas.

Os dados foram divulgados nesta quinta-feira (6/12), às 11 horas, em entrevista coletiva, concedida por Renato Azevedo, presidente do Cremesp; Bráulio Luna Filho, primeiro secretário e coordenador do Exame, e pelo conselheiro Reinaldo Ayer de Oliveira.

Quadro 1 – Participantes aprovados e reprovados no Exame do Cremesp 2012*

Participantes

Número**

Aprovados

Reprovados

% reprovação

Formados em Escolas Médicas do Estado de São Paulo

2.411

1.098

1.313

54,5%

 * Não foram considerados os participantes formados em escolas médicas fora de São Paulo

** Provas válidas

No total, 2.943 recém-formados se inscreveram no Exame do Cremesp. Desses, 71 (2,5%) não compareceram. Dos 2.872 presentes, 119 (4,2 %) tiveram suas provas invalidadas (114 de São Paulo e 5 de outros Estados) – sendo que 86 boicotaram o exame, assinalando letra “b” em todas as questões, e 33 apresentaram provas com outros padrões de respostas inconsistentes.

As provas invalidadas não foram consideradas na apuração dos resultados.

Também compareceram ao Exame recém-formados de 51 diferentes cursos de medicina de outros Estados (342, do total de 2.872 presentes). Como irão se registrar no Cremesp e atuar no Estado de São Paulo, eles também fizeram a prova. O objetivo principal do Exame do Cremesp obrigatório é avaliar o ensino médico no Estado de São Paulo. Por isso, para alguns resultados, não foram considerados os participantes formados em outros estados.

A prova contou com 120 questões objetivas de múltipla escolha que abrangem problemas comuns da prática médica, de diagnóstico, tratamento e outras situações, em nove áreas básicas: Clínica Médica, Clínica Cirúrgica, Pediatria, Ginecologia, Obstetrícia, Saúde Mental, Epidemiologia, Ciências Básicas e Bioética. A nota de corte utilizada pelo Cremesp é 6, ou seja, para aprovação o participante deve acertar pelo menos 72 questões. O exame foi aplicado pela Fundação Carlos Chagas.


Baixo desempenho em áreas básicas

O desempenho dos participantes pode ser medido conforme áreas do conhecimento médico (Quadro 2). Abaixo de 60% de acertos, o resultado por área de conhecimento é considerado insatisfatório pelo Cremesp.

O Exame do Cremesp de 2012 demonstra que há deficiências na formação dos estudantes em campos essenciais do conhecimento médico. Chamou a atenção o baixo índice de acertos em Saúde Mental (média de 41% de acertos), Saúde Pública (46,1%), Clínica Médica (53,1%) e Ginecologia (55,4%).

Quadro 2 – Áreas de conhecimento e médias de acertos*

Áreas de conhecimento

Médias (% de acertos)

Saúde Mental

41,0

Saúde Pública

46,1

Clínica Médica

53,1

Pediatria

55,3

Ginecologia

55,4

Ciências Básicas

61,0

Obstetrícia

63,1

Clínica Cirúrgica

66,7

Bioética

66,9

 *Foram consideradas 2.753 provas válidas

Escolas privadas tiveram menor média de acertos

No resultado do Exame do Cremesp de 2012, de acordo com a natureza das escolas médicas, considerando 2.753 provas válidas, verificou-se que a média (percentual de acertos da prova) foi maior entre os cursos de medicina públicos (63,74 % de acertos), quando comparados com os participantes oriundos de instituições privadas (54,38 % de acertos).

Exame obrigatório

Pela primeira vez, o Cremesp (por meio da Resolução nº 239 de 25/07/2012) tornou o Exame obrigatório. O comprovante de participação na prova no dia 11 de novembro será exigido para o registro profissional do médico no Cremesp. Mas o registro não dependerá do desempenho ou da aprovação no Exame. O resultado individual, por aluno, é confidencial.

Por força de lei, o Cremesp não pode condicionar o registro à aprovação em um exame. Isso exigiria uma lei federal, como a que instituiu o Exame da OAB, o que está em tramitação no Congresso Nacional.

Os inscritos que faltaram ao Exame do Cremesp no dia 11 de novembro deverão apresentar justificativa.

Encaminhamentos

As notas individuais serão encaminhadas confidencialmente a cada participante. As escolas médicas terão um relatório pormenorizado de desempenho de seus alunos por área do conhecimento, preservando a identidade dos formandos. Também receberão relatório sobre o Exame do Cremesp os Ministérios da Educação e da Saúde, o Conselho Federal de Medicina, a Câmara dos Deputados e o Senado Federal.

Audiência a estudantes

Um grupo de cerca 10 estudantes – a maioria representante de centro acadêmico de uma faculdade de medicina – esteve na sede do Cremesp, na ocasião em que eram divulgados os resultados do Exame, para saber o que iria acontecer com aqueles que boicotaram a prova, já que não estavam conseguindo obter inscrição no Conselho.

Após a coletiva, Azevedo, Luna e Ayer receberam os estudantes em audiência. O presidente do Cremesp esclareceu que as provas, que durante o processo de correção e revisão, apresentaram resultados inconsistentes, estavam sendo analisadas pela Comissão Organizadora. Ele informou que o Cremesp tem até 31 de janeiro para confirmar esses resultados, entretanto, prometeu se empenhar para que aqueles que estejam nessa situação recebam seus CRMs o mais breve possível.

Somente após a confirmação do resultado pela Comissão Organizadora do Exame do Cremesp, o recém-formado em Medicina poderá dar entrada ao pedido de inscrição. Mas aqueles que têm urgência do registro podem formalizar um requerimento de prioridade junto ao Cremesp.

Mais informações: Assessoria de Imprensa do Cremesp/ Telefones: (11) 3123-8703 ou 3017-9364.

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Roberto d’Avila (ao microfone) ao lado de Mauro Aranha, Renato Azevedo, Bráulio Luna e Desiré Callegari


CFM defende autonomia do Cremesp na realização do Exame

Os resultados do Exame do Cremesp foram apresentados a diretores e conselheiros do Cremesp durante sessão plenária realizada no dia 4 de dezembro, que contou com a presença de Roberto d’Avila, presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM).

Diante dos resultados apresentados nos quais  54,5% dos participantes foram considerados reprovados no Exame do Cremesp 2012, d’Avila afirmou que os conselhos regionais entendem  que a qualidade dos cursos de Medicina não é satisfatória. Concordou também que há que se fazer uma avaliação dos alunos, defendendo a autonomia do Cremesp em realizar o Exame. No entanto, ele apontou que não há consenso entre os CRMs sobre a metodologia adotada pelo Exame do Cremesp.

O CFM e os CRMs defendem um exame de progresso, com prova prática incluída e avaliação do sistema formador. “Precisamos debater mais entre os CRMs sobre a criação de uma prova obrigatória para obtenção do registro profissional porque não estamos convencidos de que um exame de ordem estabelecido por lei irá melhorar a qualidade do ensino ou deter a abertura desenfreada de escolas médicas”, declarou.

Renato Azevedo Júnior, presidente do Cremesp, esclareceu que este Conselho não é contra o exame de progresso ou de final de curso, mas que sua realização é de competência das escolas ou do Ministério da Educação (MEC). “Acreditamos que quem não acerta 60% das questões do Exame do Cremesp tem problemas de formação. E uma das discussões que a obrigatoriedade de participação nessa prova traz é a da qualidade do ensino médico”, afirmou.

Fotos: Osmar Bustos

Fonte: http://www.cremesp.org.br/?siteAcao=NoticiasC&id=2715

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