Por Victor Caglioni.*
Caminhando pelas ruas de Brusque, com suas visíveis características arquitetônicas e estereotipadas de ascendência europeia, justo no dia em que a cidade comemorava 153 anos, conversava com uma amiga natural da cidade e observava impressões sobre a visualidade dos imigrantes na mesma.
Por ter tido uma experiência considerada de êxito, em umas das cidades mais cosmopolitanas da América Latina, como imigrante-estudante da área de humanidades e valendo-me de impressões e sensações comparativas a cidade vizinha de Blumenau, comentei o quanto era perceptível uma maior visualidade dos migrantes no quadro social de Brusque em relação à Blumenau.
Referia-me a uma sutil forma de relacionamento entre os nativos e os migrantes, no comércio e nas ruas, assim como em algumas manifestações artístico-culturais do próprio evento comemorativo daquele dia, podia-se perceber nitidamente que a diversidade existe e tinha algum espaço para exaltar-se. O que acontece sensivelmente, com muito mais naturalidade que na vizinha Blumenau. Não que a última não tenha diversidade, seguramente a tem, mas esta é de alguma forma, amenizada, ou digamos assim, tensamente ou propositalmente (para os mais extremistas) menos evidenciada, que em Brusque.
Tem-se a sensação que em Blumenau ocorre, uma busca fervoraz pela exaltação da ascendência germânica, seja pelos relatos históricos ou pelos “nomes e sobrenomes” referidos a esta.
Poderíamos tomar como premissa, a grande influencia de migrações passadas italianas, portuguesas entre outras, que de alguma forma destacariam Brusque (nome já dado em razão de família ítalo-ascendente) como causa explicativa de uma maior integração, embora a história possa ajudar a entender tal fenômeno, acredito que deve haver outros tipos de racionalidade – emotividade para tal fato, uma vez que Blumenau, (nome dado em razão de sua fundação por imigrante germânico ascendente) também ter uma grande quantidade de culturas não germânicas, por tanto este não necessariamente deve ser o caminho explicativo.
Para se ter uma idéia, segundo Contardo Calligaris (psicanalista Italiano, professor da Universidade de São Paulo),alguns historiadores, antropólogos e psicanalistas sempre consideram a Itália, o berço, pós Espanha, mais “Casa da mãe Joana” de toda a Europa, no entanto hoje se encontra em Berlim (Alemanha) a maior quantidade e visualidade de diversidades daquele continente e nos países latinos casos de racismo e xenofobia extremos. (Programa Provocações: TV Cultura. 20 de Abril, 2011).
Essa percepção, não significa dizer que os migrantes de outros estados e regiões de Santa Catarina, tenham melhores ou piores condições de chegada e desenvolvimento numa ou em outra cidade, tais questões só podem ser verificadas diante de uma pesquisa mais profunda e científica.
Mas há de convir que a sensação social, algo como um termômetro cultural tem suas diferenças em relação à exaltação de alguma diversidade, entre uma cidade e outra, considerando-se as características culturais do Vale do Itajaí, como um todo.
Para finalizar como exemplo, não único, mas talvez o mais evidente, penso que ao encontrar uma roda de capoeira no centro da cidade de Brusque, seus sons afros, seu público migrante baiano e expectadores locais interessados no mesmo, demonstram que algo mais próximo ao “encantamento” ou “aproximação” em relação ao diverso, ao menos nesse momento histórico dessas cidades, está um tanto mais desenvolvido política-socialmente em Brusque que em sua vizinha Blumenau, que a cada ato público cultural, trata de evidenciar, exaltar sua influencia germânica, em forma de escala de importância, dando pouco ou nenhum espaço para outras culturalidades, mesmo que elas estejam tanto quanto, presentes em sua gente.
*Sociólogo.