‘Naturalizar a fome de 733 milhões seria vergonhoso’, diz Lula, que citou ‘fracasso coletivo’ em cúpula da ONU em NY

“Naturalizar a fome de 733 milhões de pessoas seria vergonhoso”, afirmou ainda o presidente brasileiro, antes de lembrar que a crise de governança mundial exige transformações estruturais. Lula considerou que o mundo caminha para um “fracasso coletivo” e que não atingirá metas de redução de fome e pobreza. Ele elogiou o Pacto Global Digital para “diminuir assimetrias” e exclusões decorrentes de “novas tecnologias como a Inteligência Artificial“.

A informação é publicada por RFI, 22-09-2024.

“Falei anteriormente sobre a necessidade de reformar a ONU, para que ela possa cumprir seu papel histórico”, disse o chefe de Estado brasileiro, dizendo que a reflexão conjunta havia apresentado frutos, como o Conselho dos Direitos Humanos.

“Voltar atrás em nossos compromissos é colocar em xeque tudo o que construímos tão arduamente”, afirmou Lula, que dispunha de apenas cinco minutos para falar, e acabou tendo o microfone cortado na ONU, por ultrapassar o tempo, mas continuou o discurso até o fim.

Pacto pelo futuro

Em um mundo ameaçado por “riscos catastróficos crescentes” como guerras, mudanças climáticas e pobreza, os líderes dos 193 países da ONU adotaram neste domingo (22) um “Pacto para o Futuro” da humanidade, apesar da oposição de alguns países como Rússia, Venezuela e Nicarágua.

“Convoquei esta cúpula porque os desafios do século 21 devem ser resolvidos com soluções do século 21”, afirmou o secretário-geral da ONU, António Guterres, após a adoção deste texto com 56 medidas para enfrentar os “maiores desafios do nosso tempo”.

Estes desafios vão desde a reforma do Conselho de Segurança, a arquitetura financeira global, a manutenção da paz e as mudanças climáticas, até questões mais inovadoras, como a inteligência artificial.

Guterres lançou a ideia da chamada ‘Cúpula do Futuro’ em 2021, mas nos últimos dias não escondeu sua frustração diante das dificuldades de chegar a um consenso para um texto ambicioso, para o qual pediu aos Estados que mostrassem visão, coragem e ambição.

“Acreditamos que existe um caminho para um futuro melhor para toda a humanidade, incluindo aqueles que vivem na pobreza e na exclusão“, diz o texto, ao qual se opuseram Rússia, Venezuela, Nicarágua, Coreia do Norte e Belarus.

Apesar da oposição dos países liderados pela Rússia, o Pacto e os seus anexos (Pacto Global Digital e Declaração para Gerações Futuras) foram adotados por consenso, mas não são vinculantes.

Esta nova “caixa de ferramentas” define novos compromissos, abre “novos caminhos para novas possibilidades e oportunidades”, lembrou Guterres, que prometeu trabalhar “para sua concretização até o último dia” de seu mandato.

“Não retroceder”

“Abrimos a porta, agora todos nós devemos passar por ela, pois não se trata apenas de nos entender, mas de agir. E hoje os desafio a agir”, disse Guterres.

Para a ONG Human Rights Watch, o projeto inclui alguns “compromissos importantes” nesta área, e também acolhe os elementos importantes sobre “direitos humanos”. Mas “os líderes mundiais devem demonstrar que estão dispostos a agir para garantir o respeito pelos direitos humanos”, insistiu Louis Charbonneau, especialista da ONG na ONU.

O combate ao aquecimento global foi um dos pontos mais sensíveis da negociação, em particular a transição das energias fósseis para as mais limpas.

“Não é revolucionário”

Embora existam algumas boas ideias, “não é o tipo de documento revolucionário” para reformar o multilateralismo que Guterres gostaria, disse Richard Gowan, pesquisador do International Crisis Group. Uma opinião compartilhada entre diplomatas dos Estados-membros da ONU: “morno”, “o mínimo denominador comum”, “decepcionante” foram os adjetivos mais frequentes para classificar o documento.

Os países em desenvolvimento exigiram compromissos concretos relacionados às instituições financeiras internacionais, para facilitar o acesso preferencial ao financiamento de medidas para enfrentar as mudanças climáticas. “Este é um sinal positivo para o caminho a seguir, mas o verdadeiro trabalho está na implementação e os líderes políticos devem transformar esta promessa em ação”, reagiu o diretor-executivo do Greenpeace Internacional, Mads Christensen.

“Este pacto deve realmente oferecer um futuro que as pessoas desejam: livre de combustíveis fósseis e um clima seguro”, concluiu.

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