Por Raul Fitipaldi, para Desacato.info
Javier Milei abriu mais um ano legislativo na sexta-feira, 1º de março, discursando no Congresso Nacional argentino. O ditado popular diz que de onde você não espera nada, não vem nada mesmo. E assim foi com o discurso dessa marionete barata do poder real. Nem uma palavra para um povo afundado na pobreza mais horrível da sua história. Porém, cuidado, não houve nada improvisado nessa peça ordinária mas bastante eficaz.
Milei falou para dois públicos, o quase 50% dos argentinos e argentinas que ainda o apoiam, especialmente para 25% do núcleo duro dos seus eleitores. Também falou para seus chefes da oligarquia argentina e os interesses internacionais.
Em um discurso longo demais para um orador tão precário, o libertário insultou à vontade, mentiu, prometeu mudanças constitucionais que já estão garantidas na constituição há muitos anos. Identificou inimigos e culpou à esquerda por todos os males que padece o país há 100 anos. Um verdadeiro catálogo de slogans e palavras de ordem da sua campanha eleitoral, com acréscimos da campanha eleitoral da sua hoje ministra de repressão nacional, Patricia Bullrich.
No meio dos ataques ao kirchnerismo e a socialistas e comunistas, os exabruptos desse homem medíocre tiveram uma cota de chantagem a congressistas e governadores. E, sobretudo, demonstraram o ódio de classe que a direita mundial consegue instalar em todos esses personagens da retomada fascista dos espaços democráticos. Jair Bolsonaro já pode sentir alguma vergonha, se isso estivesse ao seu alcance, de Javier Milei. O presidente argentino é uma versão aperfeiçoada da grosseria, da entrega nacional e do ódio aos pobres que já vivemos com o ex-presidente brasileiro. No entanto, Milei é menos astuto que Bolsonaro e sua violência é maior e escrachada.
Sua claque delirava nos camarotes do belíssimo prédio do congresso do país vizinho; quanto mais violência e mentiras, mais aplausos. Não era espontâneo. Houve um roteiro construído com os parlamentares da direita e com a grande mídia vernácula que dizia onde se devia aplaudir, gritar e insultar. Esse roteiro não tinha a assinatura desse pobre homem, e sim do ex-presidente Maurício Macri e da vice-presidenta de Milei, Victoria Villarruel, que extasiada com a primitiva atuação do fantoche sorriu, o tempo todo, sem dissimular enquanto todo o país a estava observando.
Macri e o poder real, através do boneco Milei, chamaram a um acordo nacional para ser assinado no dia 25 de maio, dia da Pátria na Argentina. Mas, a pobreza e a urgência é demasiada e talvez não exista esse tempo todo. O enfrentamento dos movimentos sociais com o governo de Milei parece inevitável e a repressão brutal, anunciada no discurso do Congresso, também. Pareceria que para Bolsonaro foi mais fácil. Será que o poder real, se achar necessário, vai tentar dar um autogolpe na Argentina? Só o futuro dirá. A vice-presidenta espera sorrindo. Parece mais experta que Braga Netto, e se assumir, Argentina voltará à ditadura, se é que já não voltou.