Por Raul Carrion.
O filósofo, músico e professor universitário Vladimir Safatle possui mestrado pela USP – com a dissertação “O AMOR PELA SUPERFÍCIE: JACQUES LACAN E O APARECIMENTO DO SUJEITO DESCENTRADO” – e doutorado pela universidade de Paris VIII – com a tese “A PAIXÃO DO NEGATIVO: MODOS DE SUBJETIVAÇÃO E DIALÉTICA NA CLÍNICA LACANIANA”.
Suas referências teóricas são Lacan, Hegel, Freud, Foucault, Deleuze e Adorno.
Alguns chegam a dizer que ele também leu Marx. Outros contestam: se leu, não entendeu nada…
É filiado ao PSOL – partido pelo qual concorreu em 2022 a deputado – e colunista da Folha de São Paulo.
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Com uma formação nada marxista e uma desconhecida prática revolucionária, Safatle escreveu o artigo “COMO A ESQUERDA BRASILEIRA MORREU” no jornal El País, em 12.02.20.
Nesse artigo, Safatle discorre com arrogância sobre “a inoperância completa do que um dia foi chamado de ‘a esquerda brasileira’ enquanto força opositora” e diz que “a esquerda brasileira não é mais capaz de impor outro horizonte econômico-político.”
Segundo ele, “a esquerda brasileira morreu, ela tocou seu limite e demonstrou não ser capaz de ultrapassá-lo.”
Depois de enfiar todos no mesmo saco – comunistas, trotskistas, sociais-democratas, etc. – Safatle ataca toda a esquerda brasileira, acusando-a de “populismo de esquerda”. E pontifica: “o colapso do lulismo (…) foi seguido de uma espécie de antídoto à reemergência do corpo político populista”. Ou seja, foi criado um antídoto à volta da esquerda. E conclui: “o que vemos agora é uma esquerda sem capacidade de ação (…). Foi assim que ela morreu”.
Poucos dias depois, em 28.02.20, respondendo a algumas críticas, Safatle reafirmou o seu derrotismo na FSP: “poderíamos nos perguntar se estamos realmente diante de uma morte, ao invés de uma simples derrota. (…) não é simplesmente uma derrota. É o esgotamento de um ciclo que se confunde com a história da esquerda nacional.”
Não é preciso dizer o enorme deleite que essas opiniões capitulacionistas de Safatle causaram à ultradireita brasileira, que elegeu Bolsonaro exatamente para acabar com a esquerda no Brasil.
Também é evidente o prejuízo que suas ideias causariam à luta antibolsonarista, se elas prevalecessem na esquerda brasileira.
Felizmente, a política de Frente Ampla Antifascista, proposta pelo PCdoB, unindo todo o campo democrático, progressista e de esquerda prevaleceu sobre as opiniões derrotistas de Safatle e, em 2022, a esquerda – que segundo ele estava morta – foi capaz de derrotar Bolsonaro e impedir o golpe da ultradireita planejava.
Mais recentemente, em entrevista à FSP – sem fazer qualquer autocrítica em relação a suas opiniões derrotista, que foram desmentidas pela prática –, Safatle voltou a atacar a esquerda e semear o capitulacionismo, afirmando que a “ESQUERDA MORREU E A EXTREMA-DIREITA É ÚNICA FORÇA REAL NO PAÍS” (título de sua entrevista, festejada por muitos).
Segundo ele, a vitória de Lula não resolveu nada e “a esquerda só ganhou tempo, enquanto a extrema-direita continua forte e mobilizada.”
Segundo esse grande teórico da revolução, “a esquerda brasileira (…) perdeu a ambição de transformar a estrutura da sociedade nos dois pontos fundamentais (…) igualdade e soberania popular”.
De que transformação estrutural estás falando, “cara-pálida”? O central deixou de ser a transformação socialista da sociedade burguesa e passou a ser uma melhor distribuição de renda e mecanismos de participação popular? E a questão nacional não é tida em conta? Aqui se revelam os limites reformistas desse “ultrarrevolucionário” de araque.
Penso não ser preciso me deter em mostrar quão maléficas são as opiniões capitulacionistas de Safatle que infelizmente têm audiência em setores da esquerda.
Hoje, quando crescem as pressões imperialistas, quando se multiplicam os conflitos armados e o nazifascismo renasce em toda parte, muitos vacilam e perdem a perspectiva.
Para uns, é “o fim da história”. Para outros, “a revolução tornou-se inviável”, “o socialismo fracassou”, “a esquerda morreu”.
Apesar das lamúrias dos que confundem a derrota de suas próprias concepções equivocadas com a derrota e a morte de toda a esquerda, a luta segue.
Com erros e acertos, com “possibilismos” e “pragmatismos” que precisam ser superados, a esquerda no Brasil – formada pelos que lutam por um socialismo renovado e pelo fim da opressão e exploração capitalistas – continua viva e combatente.
Raul Carrion é professor e historiador. É um militante histórico do PCdoB.
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