O projeto fascista neoliberal para América Latina. Por Leandro Monerato.

Por Leandro Monerato.

No último final de semana, Javier Milei venceu as eleições argentinas com ampla vantagem. Milei combina um entreguismo radical e uma política repressiva dura. Adepto da “doutrina do choque”, a ideia é aproveitar a profunda crise econômica e social, aliado à dispersão das forças populares para implementar uma reformulação completa do regime político do país. A ideia é entregar de vez o destino argentino aos desmandos diretos de Washington. Fim do Banco Central, dolarização, privatização de tudo. Ao mesmo tempo, defende uma política repressiva totalitária; defensor da ditadura militar e aliado ao Estado sionista de Israel.

Alguns analistas brasileiros procuram minorar a gravidade deste fato comparando Milei a Bolsonaro e repetindo o mantra anestésico “vai passar”; aludindo a suposta derrota do bolsonarismo no Brasil. Nada mais narcótico. Nem aqui a extrema-direita foi derrotada, muito menos se trata de um fenômeno retardatário na Argentina. A vitória de Milei mostra claramente uma segunda ofensiva da extrema-direita no continente. Algo que deve ser observado de perto; pois o sucesso dessa ofensiva indicará o que vem pela frente no Brasil.

Um indício evidente é a conexão entre Milei na Argentina, Noboa no Equador e Bukele em El Salvador. Sendo este último, o posto mais avançado no laboratório político do imperialismo no continente.

“Convido-vos a trabalhar para fortalecer as relações bilaterais e para um futuro próspero que busque a cooperação entre as nossas nações”, escreveu o presidente equatoriano recém-eleito após um golpe de estado. Enquanto a vice-presidente do Equador manteve uma intensa agenda internacional que incluiu reuniões com o primeiro-ministro do Peru, Alberto Otárola; o presidente do partido espanhol de extrema direita Vox, Santiago Abascal, e uma reunião neste domingo com o presidente de El Salvador, Nayib Bukele.

Não se trata de acaso; Equador e El Salvador, além do Panamá, já realizaram o processo de dolarização e abertura total das fronteiras comerciais com os Estados Unidos. A vitória de Milei na Argentina revela o plano norte-americano de estender para todo o continente a receita. Qual a receita? Terra arrasada; destruição de todo patrimônio nacional; destruição da indústria nacional e da soberania nacional; recessão profunda; fortalecimento do agroexportador ligado ao imperialismo; fim dos direitos políticos e sociais, fim dos serviços públicos. Uma repetição ainda mais amarga da receita FHC para o Brasil. Entretanto, o tamanho da destruição pretendida é tal que é preciso outro regime político para reprimir completamente as tendências necessárias de levante massivo do povo pobre em resposta.

Portanto, para além do problema econômico devemos acompanhar com preocupação o progresso da política de exceção rumo a um estado totalitário. O objetivo do imperialismo é claro: diante da crise que o seu controle político está sofrendo no Oriente Médio, na África e Ásia, a América Latina deve ser disciplinada. O quintal dos EUA tem que estar sob controle completo para que o imperialismo possa avançar nos demais frontes.

Algumas propostas de Milei: desregulamentar o mercado legal de armas de fogo, proibir a entrada de estrangeiros com antecedentes criminais e deportar os que cometerem delitos. No sistema prisional, promete construir prisões público-privadas, militarizar as que já existem para reestruturá-las durante esse período de transição e eliminar auxílios a detentos. Fala ainda em capacitar, equipar e “despolitizar” as forças de segurança e modificar leis de defesa nacional e inteligência. E disse que vai “meter presos os piqueteros”, referindo-se a manifestantes que costumam fechar ruas.

Já Noboa, declarou que Equador está em “guerra”. Sua proposta mais comentada é a de criar navios-prisões para isolar os presos de suas redes criminosas e propõe a militarização das fronteiras e enviar os presos mais violentos para navios prisionais.

Mas El Salvador já não é projeto, é realidade. Também se utilizando do disfarce ideológico de “combate ao tráfico e ao crime” Bukele instaurou uma ditadura policial no país. Desde 2022 El Salvador vive sob um regime de exceção. Sem mandato, sem processo legal, sem mesmo acusação formal, 1% da população foi presa em poucos dias. Hoje El Salvador é o líder mundial em número de presos proporcional ao total da população.

E a operação fascista foi televisionada, foi divulgada com superproduções cinematográficas para divulgar o “maior presídio do mundo”!.

El Salvador é o “experimento de sucesso” pronto a ser exportado por todo o continente. Equador e Argentina é o segundo estágio do projeto. É muito grave isso, pois o Brasil é o foco final.

E aqui, o estado de exceção jurídico já está pronto. Presídios privados estão sendo aprovados. O sionismo exerce uma pressão cada vez mais evidente no Estado nacional. Exército dos EUA operam na Amazônia brasileira; Guajajara abre o seu ministério para os EUA e França…

O polianismo não nos ajudará em nada; pelo contrário.

A opinião do/a/s autor/a/s não necessariamente representa a opinião de Desacato.info.

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