Por Vitor Nuzzi, RBA.
Depois da repercussão provocada pelas declarações xenófobas do vereador Sandro Fantinel (Patriota), a Câmara Municipal de Caxias do Sul divulgou nota, nesta quarta-feira (1º), para repudiar a fala do parlamentar bolsonarista. O prefeito caxiense, Adiló Didomenico (PSDB), também se manifestou contra a manifestação do vereador, que ainda ontem causou repulsa do governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT).
A origem do caso está na operação de uma força-tarefa que, na semana passada, resgatou 207 trabalhadores em situação análoga à escravidão a serviço de vinícolas em Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha. A maioria retornou às cidades de origem, na Bahia. O Ministério Público do Trabalho do Rio Grande do Sul discute com as empresas produtoras e com a contratante o pagamento de indenizações. As verbas rescisórias já foram praticamente quitadas.
“Aquela gente lá de cima”
Na tribuna da Câmara de Caxias, o vereador, bolsonarista assumido, atacou os trabalhadores, dizendo que as empresas não deveriam mais contratar “aquela gente lá de cima”. Também afirmou que deveriam preferir argentinos, pois estes seriam “limpos, trabalhadores e corretos”. Já os da Bahia teriam como única cultura “viver na praia tocando tambor”.
Segundo a nota divulgada hoje pela Câmara, “a Mesa Diretora não compactua com nenhuma manifestação de preconceito, discriminação, racismo ou xenofobia”. Assim, o pronunciamento de Sandro Fantinel “foi um posicionamento individual do parlamentar”, que não traduz o pensamento da Casa e dos demais vereadores.
“Também pedimos desculpas ao povo baiano e a todos os migrantes que se sentiram atacados, destacando que são todos muito bem-vindos em nossa Caxias do Sul”, acrescenta a Câmara, que tem como presidente José Pascual Dambrós, do PSB. Segundo ele, todas as denúncias que estão chegando serão analisadas pela Comissão de Ética da Casa.
Fazendeiro, Fantinel é o único integrante do Patriota, entre os 23 vereadores caxienses. PSB, PSDB, PT e PTB têm três representantes cada. O MDB e o Novo, dois. Há ainda um de PCdoB, PDT, PP, PSD e Republicanos.
“Caxias do Sul é acolhedora”
Já o prefeito disse que não cabe a ele fazer “julgamento de mérito” da fala de um vereador, mas reforçou que Caxias do Sul “é uma cidade acolhedora e referência em recepção e capacitação de migrantes”. Segundo ele, o acolhimento “está no DNA” do desenvolvimento da cidade.
“Repudiamos qualquer forma de discriminação e preconceito”, afirmou ainda o prefeito. “Com relação ao fato ocorrido no município vizinho, reiteramos nossa inconformidade e determinamos reforço a todas as ações destinadas a garantir condições dignas de trabalho e assistência a todos que procuram Caxias em busca de oportunidades, sejam elas temporárias ou permanentes.”
O governador baiano, por sua vez, reagiu com indignação. “Eu repudio veementemente a apologia à escravidão e não permitirei que se refiram à nossa gente com preconceito. É desumano, vergonhoso e inadmissível ver que há brasileiros capazes de defender a crueldade humana”, afirmou Jerônimo Rodrigues. Ele determinou que a Procuradoria Geral do Estado tome providências para responsabilizar judicialmente o vereador.