Ministro do TSE inclui minuta do golpe em investigação contra Bolsonaro

Torres estava na Flórida durante os atos democráticos, mesmo estado em que Bolsonaro está hospedado. Foto: Evaristo Sa / AFP

Por Caroline Oliveira, Brasil de Fato.

O corregedor-geral do Tribunal Superior Eleitoral, o ministro Benedito Gonçalves, incluiu a minuta de um decreto golpista na investigação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por ataque ao processo eleitoral durante reunião com embaixadores.

A minuta foi encontrada na casa do ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal Anderson Torres. O documento autoriza Bolsonaro a declarar estado de defesa nas sedes do TSE para reverter o resultado da eleição presidencial do ano passado.

O PDT, partido que solicitou a inclusão do documento na investigação, afirmou que a minuta seria um “embrião gestado com pretensão a golpe de Estado“, o que contribui com “os argumentos que evidenciam a ocorrência de abuso de poder político tendente promover descrédito a esta Justiça Eleitoral e ao processo eleitoral, com vistas a alterar o resultado do pleito”.

Na mesma linha, o ministro do TSE afirmou que a tese apresentada pela sigla possui “aderência”, “em especial no que diz respeito à correlação do discurso com a eleição e ao aspecto quantitativo da gravidade”. O discurso, prosseguiu o ministro, “não mirava apenas os embaixadores, pois estaria inserido na estratégia de campanha do primeiro investigado de ‘mobilizar suas bases’ por meio de fatos sabidamente falsos sobre o sistema de votação”.

“Na petição ora em análise, alega que a minuta de decreto de estado de defesa, ao materializar a proposta de alteração do resultado do pleito, ‘densifica os argumentos que evidenciam a ocorrência de abuso de poder político tendente a promover descrédito a esta Justiça Eleitoral e ao processo eleitoral’.”

O ministro também escreveu que o pedido do PDT “converge com seu ônus de convencer que, na linha da narrativa apresentada na petição inicial, a reunião realizada com os embaixadores deve ser analisada como elemento da campanha eleitoral de 2022, dotado de gravidade suficiente para afetar a normalidade e a legitimidade das eleições e, assim, configurar abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação”.

Benedito Gonçalves estabeleceu três dias para a manifestação da chapa de Bolsonaro e pediu uma cópia oficial da minuta golpista ao ministro do Supremo Tribunal Federal e presidente do TSE, Alexandre de Moraes. Também solicitou “outros documentos e informações resultantes da busca e apreensão que digam respeito ao processo eleitoral de 2022, em especial voltados para a deslegitimação dos resultados.”

Reunião com embaixadores

Em seu discurso aos embaixadores, em 18 de julho do ano passado, no Palácio da Alvorada, Bolsonaro requentou acusações já rebatidas pelo TSE. Ele partiu de um inquérito aberto pela Polícia Federal em 2018 sobre uma tentativa de invasão de um hacker ao sistema do tribunal.

A corte já esclareceu que esse acesso foi bloqueado e não teve qualquer interferência no resultado das eleições. Entre as mentiras ditas pelo então presidente durante a reunião, o Bolsonaro declarou aos embaixadores que o sistema eleitoral não é auditável.

“Nós não podemos enfrentar mais uma eleição, sob o manto da desconfiança. Temos que ter a certeza de que o voto de um eleitor, vai para aquela pessoa”, afirmou Bolsonaro na ocasião. “Quando se fala em eleições, vem à nossa cabeça transparência. E o senhor Barroso (Luís Roberto Barroso, ministro do STF), também como senhor Edson Fachin (presidente do TSE), começaram a andar pelo mundo me criticando, como se eu estivesse preparando um golpe. É exatamente o contrário o que está acontecendo”, acusou Bolsonaro.

O ex-presidente também atacou diretamente os ministros do STF. “Me acusam de atentar contra as eleições e a democracia. Quem faz isso é o próprio TSE… Nós vemos claramente, ministro Fachin foi quem tornou Lula elegível, e agora é presidente do TSE. Ministro Barroso foi advogado do terrorista Battisti que recebeu aqui o acolhimento do presidente Lula em dezembro de 2010. O ministro Alexandre de Moraes advogou no passado para grupos que, se eu fosse advogado, não advogaria”, insinuou Bolsonaro.

Inclusão de Bolsonaro na investigação

Bolsonaro foi incluído no inquérito 4.921 do STF, que investiga a “instigação e autoria intelectual dos atos antidemocráticos” em Brasília, em 8 de janeiro, pela postagem de um vídeo que tinha a seguinte legenda: “Lula não foi eleito pelo povo, ele foi escolhido e eleito pelo STF e TSE”. O vídeo ficou no Facebook do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por cerca de duas horas, na madrugada do último dia 10 para 11.

Segundo entrevista de um ex-ministro de Bolsonaro a Josias de Souza, do UOL, “quem realizou a postagem foi o Carluxo”. Também conhecido como “02″, o vereador Carlos Bolsonaro (PL) é o principal responsável pelas redes e a estratégia de comunicação do pai. Não por acaso, é tido como mentor do que se convencionou chamar “gabinete do ódio”.

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