Infiltração e goteira no prédio do MASC colocam em risco as obras de Meyer Filho

Exposição "Arquivos Implacáveis Meyer Filho", que ficaria em cartaz até 22 de janeiro de 2023, é encerrada no MASC

Foto: Luciana de Moraes

Por Luciana de Moraes.

Um problema que dura muitos anos, intensificado com as fortes chuvas que castigam a cidade nos últimos dias. O Museu de Arte de Santa Catarina (MASC) apresenta as fissuras da estrutura física marcada por décadas de descaso da gestão pública. A falta de condições, especialmente do telhado do prédio, coloca em risco as obras de artistas expostos no local e do próprio acervo da instituição, causando danos irreversíveis à cultura catarinense.

“Os riscos para o acervo exposto foram detectados desde o início da exposição, aberta em 29 de setembro”, dispara a presidente do Instituto Meyer Filho, Sandra Meyer. Os pedidos de resolução do problema também não são recentes. Desde que abriu a mostra no MASC, Sandra vem alertando para a gravidade do problema e cobrando posicionamento e atitude dos órgãos responsáveis pela gestão do patrimônio público material e imaterial.

Uma novela antiga se repete

No dia 14 de outubro, Sandra protocolou um ofício direcionado à presidência da Fundação Catarinense de Cultura (FCC). O documento relata a fragilidade da infraestrutura do MASC com a presença de goteiras e infiltrações. Naquela mesma semana, sob fortes chuvas, o estado do museu se agravou.

Chegou novembro e junto a descoberta que um desenho de Meyer Filho, datado de 1957, não resistiu às intempéries e às consequências da infiltração descendente, inclusive, com laudo comprobatório. Dois dias após o fato, em 14 de novembro, sete obras foram retiradas da parede com o objetivo de preservá-las.

Em dezembro, outras obras seguiram o mesmo destino para não serem danificadas. no dia 20 deste mês, a Fundação Catarinense de Cultura reconheceu a urgência do problema e fechou as portas do MASC para visitação do público. A previsão é reabrir somente com a conclusão das obras de reparo do telhado, processo que deverá durar alguns meses.

Este cenário não é de hoje, tampouco novidade para artistas e produtores que já trabalharam no local. Esta condição espacial do MASC se arrasta há pelo menos 15 anos e, certamente, poderia ser superada com vontade política, investimentos na construção de um novo telhado para o prédio do Centro Integrado de Cultura (CIC) – onde o museu está anexado -, entre outras muitas demandas não resolvidas pelas manutenções paliativas adotadas até agora.

Foto: Luciana de Moraes

Com as condições inapropriadas para manter o acervo “Arquivos Implacáveis Meyer Filho”, em cartaz até 22 de janeiro próximo, o Instituto Meyer Filho anuncia o encerramento antecipado da exposição e a imediata retirada das obras do MASC.

Organizada para homenagear o centenário do artista catarinense modernista Ernesto Meyer Filho, “Arquivos Implacáveis Meyer Filho” termina sua exibição antes do planejado, deixando um vácuo no calendário artístico da cidade. “É verdade, é tudo verdade”, diria Meyer. A cultura não é prioridade.

Denúncia

No trecho destacado da entrevista realizada pelo jornalista Carlos Damião para o Jornal de Santa Catarina, publicada em 15 de setembro de 1980, Meyer Filho já alertava para o descaso do Governo com a arte de Santa Catarina.

MAIS APOIO

A arte de Santa Catarina, ele considera tão boa quanto a de qualquer outra parte do Brasil. “Agora, se o Governo patrocinasse, nós poderíamos fazer muito sucesso em todo o país. Nós temos que acabar com essa palhaçada de que o sujeito, para ser artista, tem que ser carioca, paulista ou mineiro. Está faltando apoio do governo do estado, para que a gente possa realizar uma exposição fora daqui e mostrar que a nossa arte tem tanto valor quanto o que se faz no resto do Brasil”. Meyer lamenta, também, que a arte não seja popularizada no país, “porque o brasileiro, de modo geral, passa fome, é subdesenvolvido e, por isso, tem horror à arte”.

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