As aglomerações nos quartéis desafiam o jornalismo. Por Moisés Mendes

    Por Moisés Mendes.

    Os mais importantes fatos jornalísticos depois da eleição, com o aparente fim dos bloqueios de estradas, são as aglomerações de gente de verde e amarelo diante de quartéis e QGs do Exército.

    Mas os fatos, disseminados pelo país, são ignorados pela grande imprensa. E só a grande imprensa poderia tentar cobri-los, já que essa é uma tarefa improvável para veículos progressistas.

    Por que os grandes jornais, inclusive os gaúchos, não vão até as aglomerações para ouvir as pessoas que estão ali afrontando a Constituição e a democracia?

    Sem essa cobertura, os jornais abrem mão de uma obrigação da imprensa. Precisamos saber quem são e o que pensam os que se aglomeram.

    É simplório achar que uma cobertura daria voz a golpistas e que por isso não deve ser feita.

    Se fosse assim, o jornalismo ficaria em casa, porque a ilegalidade é a marca de fatos presentes no dia a dia dos repórteres no mundo todo.

    Jornalistas não lidam só com gente de bom senso ou com personagens de gestos altruístas e humanistas. Não mesmo.

    Mas é razoável pensar que também a grande imprensa não cubra as aglomerações por medo das reações.

    Os próprios jornais sabem que as aglomerações são resultado da postura histórica da grande imprensa, principalmente desde 2016. O jornalismo golpista ajudou a fomentar as ações desse pessoal.

    A não-cobertura das aglomerações representa o fracasso do jornalismo das corporações e uma rendição das empresas à imposição do golpismo.

    A impossibilidade da cobertura, que pode ser alegada pelos jornais, é a prova de que os ajuntamentos são ameaçadores e põem em risco o cotidiano da democracia, mesmo sem golpe.

    O jornalismo que entra, com todos os riscos, em cenários de guerra e em áreas dominadas pelo tráfico, não consegue frequentar os espaços controlados pelas aglomerações bolsonaristas.

    É a maior prova de que as reuniões diante de prédios militares não são expressões das liberdades e da democracia, mas atentados contra a democracia.

    Não há liberdade em territórios interditados pelo extremismo e fechados ao acesso da imprensa.

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    QUAL É A VANTAGEM?
    A grande dúvida, que só o tempo poderá responder, é se Bolsonaro será ou não comido pelos próprios companheiros de direita e até de extrema direita.

    A dúvida é sustentada por uma pergunta elementar: qual será a vantagem de alguém que pode construir uma careira autônoma, se ficar ligado a Bolsonaro?

    O que políticos que foram alugados para o apoio a Bolsonaro irão ganhar se orientarem seus passos inspirados num perdedor que nunca liderou nada.

    A opinião do/a/s autor/a/s não necessariamente representa a opinião de Desacato.info.

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