Por José Álvaro de Lima Cardoso, para Desacato.Info.
O Brasil vem de cinco anos de estagnação do Produto Interno Bruto (PIB).
Esse que, possivelmente, é o pior desempenho do produto que se tem registro
nas contas nacionais, tem feito o país perder continuamente posições no
ranking das maiores economias do mundo. De 2019 até 2021, o país caiu
quatro posições, da 9ª para a 13ª maior economia. O Brasil, que entre 2010 e
2014 ostentava a condição de 7ª economia do mundo, em 2020 saiu da lista
das dez maiores pela primeira vez desde 2007.
Nesse quadro dramático de estagnação econômica, em agosto último o
Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central elevou a taxa Selic de
13,25% para 13,75% ao ano, 12º aumento consecutivo. É o maior patamar de
taxa de juros em quase seis anos. Esse nível de taxa de juros, mantêm o Brasil
na condição de líder do Ranking Mundial de juros reais desde maio (ver
Tabela), abrindo inclusive distância do México, segundo colocado na lista. No
Ranking o nível de juros reais no Brasil (isto é, juros nominais menos inflação)
é um verdadeiro “ponto fora da curva” entre os 40 países listados.
Pela sinalização do Copom em agosto, o Banco Central irá manter a
estratégia de alto dos juros até que a inflação esteja “sob controle”.
Possivelmente o aumento dos juros não conseguirá controlar uma inflação que,
como se sabe, não é causada por excesso de demanda. No entanto, é
garantido que o aumento da Selic causará fortes prejuízos sobre produção,
consumo, comércio e investimentos produtivos.
Por que a taxa básica de juros do Brasil tem que aumentar muito acima da
média mundial, seguindo uma receita que nunca funcionou, que é tentar
controlar com juros altos uma inflação que não decorre de excesso de
demanda? Será que os economistas do Banco Central (que no governo
Bolsonaro se tornou “independente”) desconhecem esse fato elementar? A
explicação está no “sistema da dívida”, que beneficia uma minoria privilegiada
de banqueiros, rentistas e outros especuladores. Entre junho do ano passado,
até maio deste ano, em 12 meses o governo federal já pagou R$ 500 bilhões
com juros da dívida. Segundo dados do Banco Central, este é o maior valor
gastos em um ano, desde fevereiro de 2016, quando a despesa alcançou R$
513 bilhões.
O montante equivale a 5,51% do Produto Interno Bruto (PIB) e é superior
aos orçamentos previstos para este ano em Saúde (R$ 139,9 bilhões) e em
Educação (R$ 62,8 bilhões), somados. Para termos ideia do que significa
desembolsar R$ 500 bilhões para meia dúzia de especuladores, o conjunto de
ações do governo Bolsonaro, visando ganhar as eleições, aprovado em julho e
chamado ironicamente de “pacote de bondades” não chegará a R$ 200 bilhões.
São recursos distribuídos para milhões de pessoa, com objetivos claramente
eleitorais, mas que representam apenas uma fração do que é destinado a um
pequeno grupo de milionários e bilionários.
Esse é o único segmento na sociedade que não têm o que reclamar da
política econômica atual, está voando em céu de brigadeiro. Prova disso é que,
ao mesmo tempo em que a classe trabalhadora empobrece rapidamente, e 33
milhões de brasileiros estão passando fome, os quatro maiores bancos de
capital aberto do país (Itaú Unibanco, Banco do Brasil, Bradesco e Santander),
juntos lucraram R$ 26,6 bilhões entre abril e junho, alta de 20,6% em relação ao mesmo período de 2021. É um desempenho que nada tem a ver com a
economia produtiva e que indica que quase toda a energia de uma população
trabalhadora, que sobrevive às duríssimas penas, é canalizada para sustentar
uma minoria de privilegiados.