Por Cláudia Pereira e Nívia Martins, Pastorais do Campo.
Em defesa aos povos do campo, das águas e das florestas, o lançamento da Campanha Nacional Contra Violência no Campo acorreu no auditório do Conselho Nacional de Direitos Humanos, em Brasília (DF), na manhã de ontem po(02/08).
Na mística de abertura ouviu-se o clamor de indígenas, homens e mulheres trabalhadores/as do campo e de diversas outras representações dos povos das águas, das florestas. Em um vídeo testemunhal mostrou-se a situação de violência no campo, enfrentada nos últimos anos, que se fortalece pela impunidade.
“Esperamos que essa campanha possa sensibilizar a sociedade, pois sem o campo, a cidade não vive, somos importantes para esse país”
Na primeira mesa, representantes das organizações que propõe a campanha falaram da importância do enfrentamento à Violência no Campo. Darci Campos, do Conselho Nacional dos Direitos Humanos (CNDH), falou das missões ocorridas nos diversos estados, nos últimos meses, para amparar aos que sofreram massacres e diversas violências. “Receber vocês significa que o CNDH precisa estar a serviço dos direitos humanos e daqueles que mais precisam, independente do governo”.
Sandra Maria, da Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (CONAQ) e da Comissão Terra e Água, enfatizou que são os povos da floresta que sustentam o país. “É preciso que o governo retome a política de reforma agrária, só assim, conseguiremos trabalhar em paz, em nossas terras, sem ter que enfrentar grileiros, agronegócio, etc. Esperamos que essa campanha possa sensibilizar a sociedade, pois sem o campo, a cidade não vive, somos importantes para esse país”.
“É preciso políticas públicas, crédito e garantias do governo para quem vive no campo, só assim, os povos poderão enfrentar os problemas que afetam o meio ambiente, provocados pelo agronegócio”
Alair Luiz dos Santos, secretário de Política Agrária da Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais (CONTAG), salientou a importância de políticas públicas, crédito e garantias do governo para quem vive no campo, só assim, os povos poderão enfrentar os problemas que afetam o meio ambiente, provocados pelo agronegócio, e lutar pela preservação da vida dos povos do campo, das águas e das florestas.
Dom José Ionilton Lisboa de Oliveira, bispo de Itacoatiara (AM) e presidente da Comissão Pastoral da Terra (CPT), falou sobre a articulação para a criação da campanha e a importância da mesma em defesa dos territórios.
Alessandra Faria, do Conselho Nacional dos Direitos Humanos (CNDH), alertou para o número de casos de violência no campo registrado em 2022 que já ultrapassa os números do ano de 2021.
“O que sofremos na base é violência na bala, aqui em Brasília é na caneta”
Na segunda mesa ecoou relatos dos povos que sofrem com a repressão e violências, como a de Simão Guarani Kaiowá, sobrevivente do Massacre de Caarapó. Simão relatou a situação que os povos originários vêm sofrendo, por meio de ameaças e ataques de diversas formas. “O que sofremos na base é violência na bala, aqui em Brasília é na caneta. Os territórios indígenas estão sendo dizimados e estamos perdendo nossas vidas, nossos companheiros e lideranças”.
O agricultor familiar Ismael Cunha, da comunidade de Alegrias, no município de Timbiras (MA), contou sobre o aumento dos conflitos nos últimos dois anos em sua comunidade. Segundo ele há anos a comunidade vive sob controle dos latifundiários. “Estou na lista para ser assassinado, por estar na defesa do nosso território e das nossas famílias. Estou recebendo diversas ameaças, já denunciei para os órgãos públicos, mas ninguém se move.”
“Desde 2010 não existe nenhuma terra demarcada no Brasil, sendo o país que mais possuem diversidade indígena e línguas”
Antônio Eduardo Cerqueira de Oliveira, secretário-executivo do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), falou sobre o Relatório de Violência Contra os Povos Indígenas em 2021. “Desde 2010 não existe nenhuma terra demarcada no Brasil, sendo o país que mais possuem diversidade indígena e línguas”.
Segundo Andréia Silvério, da Comissão Pastoral da Terra (CPT), os dados do Caderno de Violência no Campo se referem a violência física, ameaças e mortes. De acordo com Andreia, entre as entidades e povos que mais foram mortos nos últimos anos, estão os camponeses, sem terra e os indígenas. Ela lembrou que em 2022 houve um aumento de assassinatos em relação a 2021.
Ao final do lançamento foi divulgado a proposta para que entidades possam fazer adesão à campanha de Enfrentamento à Violência no Campo por meio do formulário: https://forms.gle/61216X11K9yr9wJ78
Assista ao lançamento da Campanha: