Aquilombar e aldear

Por Roberto Liebgott, para Desacato.info.

Expressões de linguagem em tempos onde se busca fortalecer e elevar a participação e os protagonismos indígenas, quilombolas, afroindígenas nas esferas das políticas partidárias.

Expressões de linguagem que pretendem marcar a diferença de perspectivas, de ideais e projetos para um país onde as identidades, as culturas e os modos de ser, viver de povos e comunidades sejam valorizados e respeitados.

Expressões de linguagem, no entanto, não bastam, não resolvem, sequer cabem naquele lugar da política que, precisaria abrigar o exercício de uma cidadania participativa, específica e diferenciada, mas, tão somente gera disputas de interesses excludentes, mesquinhos,  pelo poder violentador, por riquezas desmedidas e ideologias de dominação.

Expressões de linguagem não alteram o sistema partidário, já que sua estrutura é planejada e preparada para esmagar, triturar, absorver, embutir e igualar os que lá entram, os que lá permanecem, às vezes durante décadas, quase como se fosse um lugar hereditário.

Expressões de linguagem  até tornam palatável e aceitável as ideias e os desejos de militantes ou lideranças de povos, comunidades tradicionais e originárias, bem como de muitos outros que acreditam nos partidos políticos –  velhos, novos ou a serem ainda constituídos – como espaços de transformação das realidades de injustiças, do racismo, violências e intolerâncias.

Expressões de linguagem não alcançam a política partidária porque ela é desconectada dos mundos indígenas e quilombolas, onde as lógicas de vida e relações vinculam-se a outras concepções e conceitos, onde os alicerces não são a degradação, a exploração, a depredação, a indiferença e intolerância.

Nas aldeias e nos quilombos as vidas se interligam pelas religiosidades, espiritualidades e ancestralidades, pelas  memórias e saberes tradicionais que são  transmitidos de geração para geração e onde as pessoas vivenciam a singeleza da partilha, a simplicidade do sorriso, a alegria do afago e da mão sempre pronta a alcançar o outro.

Roberto Antônio Liebgott é Missionário do Conselho Indigenista Missionário/CIMI. Formado em Filosofia e Direito.
A opinião do/a/s autor/a/s não necessariamente representa a opinião de Desacato.info.

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