Os refugiados afegãos na Alemanha estão sendo deslocados de suas casas para receberem cidadãos ucranianos

O Departamento de Assuntos Sociais do Senado alemão lamentou que o tratamento da situação dos refugiados ucranianos tenha afetado as famílias afegãs e argumentou que era uma decisão baseada em "condições operacionais necessárias e difíceis".

Afegãos evacuados na base aérea dos EUA em Ramstein, Alemanha, 26 de agosto de 2021. Foto:
Armando Babani

Os refugiados afegãos na Alemanha estão sendo deslocados de suas casas para dar lugar aos cidadãos ucranianos que estão chegando ao território fugindo do conflito em seu país, noticiou a revista Foreing Policy.

Os ativistas sociais do país asiático que chegaram a Berlim fugindo do Talibã corroboraram as expulsões. Tareq Alaows, membro de um conselho de refugiados na capital alemã que ajuda a melhorar suas condições, disse que as autoridades locais se justificaram dizendo que os afegãos em questão estavam vivendo em “centros de chegada” temporários que eram para sua estada de curto prazo de qualquer forma.

No entanto, Alaows disse que algumas famílias viviam em casas há anos e outras estavam em acomodações permanentes, além dos chamados centros de chegada. Parwana Amiri, outra ativista social e refugiada do Afeganistão que chegou em Berlim no final de janeiro, disse que uma assistente social bateu em sua porta para informá-la de que ela tinha que deixar sua casa para os recém-chegados da Ucrânia.


Sem perguntas, sem negociação, ela simplesmente teve que ‘sair em 24 horas'”, escreve Foreing Policy, citando o relato de Amiri e enfatizando que, como ela, há centenas de afegãos em toda a Alemanha na mesma situação.

“Claro que não é culpa dos ucranianos, mas temos que refletir sobre nossa solidariedade se ela for dirigida apenas a certas pessoas. Os últimos meses mostraram que é possível um tratamento diferente dos refugiados, e isto deve ser sistematicamente ancorado em nossa sociedade”, disse Alaows.

O que a Alemanha diz?

O Departamento de Assuntos Sociais do Senado alemão lamentou que o tratamento da situação dos refugiados ucranianos tenha afetado as famílias afegãs e argumentou que era uma decisão baseada em “condições operacionais necessárias e difíceis”. “Lamentamos que isto tenha causado dificuldades adicionais para as famílias afegãs [e que] as pessoas afetadas tenham tido que sair de seu ambiente familiar e agora possivelmente tenham dificuldades em manter suas conexões sociais”, disse o porta-voz do escritório, Stefan Strauss.

Strauss explicou que os 83 abrigos de refugiados de Berlim já abrigam cerca de 22.000 pessoas e que os migrantes ucranianos deveriam ser colocados em centros de chegada definidos para simplificar o procedimento. Ele também relatou que aos afegãos despejados foi oferecido um local “permanente” para se estabelecerem.

Desde o início da operação militar especial da Rússia na Ucrânia, a Alemanha recebeu pelo menos 316.000 cidadãos ucranianos, de acordo com a revista. Berlim, localizada no leste do país e próxima à fronteira com a Polônia, é o primeiro ponto de chegada de muitos refugiados. Como a maioria dos afegãos, apenas um punhado de ucranianos permanecerá na capital alemã indefinidamente; a maioria está indo para um dos 16 estados federais do país.

“Quando surgiram as primeiras imagens da Ucrânia, chorei por seu povo. Eu conheço a guerra e seus horrores. Eu ainda choro por eles. Peço apenas que todos sejamos tratados igualmente. Um refugiado é um refugiado”, disse Amiri.

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