Librando: o jogo que ensina Libras e promove a inclusão

As placas com o sinal e a datilologia para identificar diferentes espaços da escola
Crédito: Foto: Gabriel Dalcortivo. Fonte: Arquivo pessoal

Na sala de aula do 6º ano do Ensino Fundamental da EMEB Hilda Granemann de Sousa, em Caçador (SC), o estudante Henrique Baldissera só interagia com a intérprete de Língua Brasileira de Sinais (Libras) Dayane Ebert da Silva porque seus colegas não sabiam como se comunicar com ele. Essa realidade começou a mudar quando Dayane passou a ensinar Libras para a turma. O envolvimento foi tão grande que culminou no desenvolvimento do Librando, um jogo que criou momentos divertidos de interação entre a turma para aprender Língua Portuguesa e Libras.

Desenvolvido por Néllik Annie da Silva, professora do Atendimento Educacional Especializado (AEE) da escola, junto com Dayane, Henrique e em parceria com o professor de Informática Gabriel José Dalcortivo e outros profissionais da escola, o jogo Librando consiste em desafiar a turma a fazer o sinal em Libras e soletrar por meio do alfabeto manual, ou datilologia, palavras ou imagens sorteadas. Eles também podem dar sorte e tirar a carta coringa para ganhar a ajuda de Henrique. Vence o grupo que fizer o sinal e soletrar corretamente mais vezes.

“Incentiva as outras crianças a aprenderem Libras e não terem preconceito, não só com os surdos, mas com outras crianças também”, relata Henrique

“O Henrique participou de toda a criação do jogo. Escolhemos juntos quais palavras, imagens e datilologia usaríamos, fizemos as regras e produzimos as cartas. Já o professor de Informática criou o dado com sensor, para evitar que as crianças não tocassem no objeto, já que estamos em uma pandemia”, explica Néllik.

A turma também criou e espalhou pela escola placas com o sinal e a datilologia de todos os espaços, como banheiros, sala de professores e secretaria, para que todos tivessem mais acesso à Libras.

“Gostei muito, é bem importante pois ajuda muito, incentiva as outras crianças a aprenderem Libras e não terem preconceito, não só com os surdos, mas com outras crianças também”, conta Henrique.

O jogo fez tanto sucesso com a turma que, em seguida, Néllik e Henrique criaram o PortoLibras, um jogo similar, mas que promove a construção de frases completas a partir de palavras soltas. “Eles aprendem Libras e aprimoram seus conhecimentos de Língua Portuguesa ao mesmo tempo”, explica a educadora.

Agora, uma vez por semana os estudantes têm aula de Libras e, uma vez por mês, jogam o Librando ou o PortoLibras. Professores de outras áreas do conhecimento também têm se envolvido, permitindo que a intérprete de Libras traduza a aula para a turma toda em tempo real.

Inclusão de todos e todas

O jogo Librando é fruto da formação “Materiais Pedagógicos Acessíveis” de 2021, realizado pelo Instituto Rodrigo Mendes e parceiros, do qual Néllik participou. A formação tem como objetivo criar materiais que contenham recursos de acessibilidade e tecnologias pautados pelo Desenho Universal para a Aprendizagem (DUA) e a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), para possibilitar a aprendizagem dos estudantes, com e sem deficiência, e realizar uma educação inclusiva na prática.

O Librando, apesar de ter sido criado para promover a interação entre Henrique e seus colegas, também tem ajudado na inclusão de outra estudante da turma. Ela fica responsável por identificar o número sorteado e encontrar a carta com o número correspondente e entregá-la para o estudante.

“Tem sido muito bom, porque a turma toda incentiva e interage com ela. Com isso, todos ganham, porque os estudantes sem deficiência também aprendem a conviver, respeitar e reconhecer limitações e potências em todos os seres humanos. A inclusão é possível quando a escola inteira se mobiliza”, afirma Néllik.

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