Depressão e ansiedade no declínio da pandemia

Distúrbios de saúde mental aumentaram 25% em todo o mundo, segundo a OMS. Em meio a crise econômica e fome, Brasil está entre os mais afetados. Relatório recomenda que países invistam em políticas de apoio à população

Por Gabriela Leite.

Um novo aviso da Organização Mundial da Saúde (OMS) constatou um problema que notadamente se agravou com a pandemia: o aumento da depressão e da ansiedade em todo o mundo. Segundo resumo científico publicado na quarta-feira (2/3), a prevalência global desses transtornos mentais aumentou 25%. Para Tedros Adhanon, trata-se apenas da ponta do iceberg, visto que estima-se que em países de média e baixa renda, como o Brasil, haja mais casos do que o reportado. Acomete principalmente mulheres, pessoas mais jovens e aqueles com saúde debilitada. Idosos também sofrem desproporcionalmente. Em termos gerais, a OMS estima que 5% dos adultos em todo o mundo sofram de depressão.

Entre os motivos constatados para a piora da saúde mental, situações comuns a milhões, durante os dois últimos anos: estresse causado pelo isolamento social, solidão, medo da infecção própria e de pessoas queridas e o luto – vivenciado por amigos e familiares de cerca de 6 milhões de pessoas que morreram de covid ao redor do planeta. Além desses fatores, também estão as preocupações financeiras, as restrições ao trabalho e o desemprego.

Em profissionais de saúde, o número explode: quase 20% deles apresentaram sintomas de ao menos um episódio depressivo, em toda a América Latina. Esgotamento, más condições de trabalho e a necessidade de tomar decisões éticas complexas afetou fortemente esses trabalhadores. A prevalência também é mais alta entre aqueles que foram infectados pela covid: um estudo conduzido pela Universidade de São Paulo (USP) apontou que pacientes que se recuperaram de casos moderados e graves de covid-19 apresentaram alta incidência de casos de depressão, ansiedade e déficits psiquiátricos.

Outro dado levantado por esse estudo da OMS levanta alarmes para brasileiros: o país é o mais afetado pela ansiedade e o quinto entre aqueles cujos cidadãos mais sofrem de depressão. Talvez porque a pandemia tenha sido sentida com mais intensidade por aqui, afinal somos a segunda nação em número de mortes por covid e a terceira em quantidade de casos. O Brasil também foi considerado o pior do mundo em termos de gestão da pandemia e o pior da América Latina segundo seus habitantes. Além de mortes e infecções descontroladas, o país enfrenta uma grave crise econômica e política, além da volta da fome. Mas não é de agora que estamos no pódio dos transtornos mentais: segundo a OMS, já éramos líderes latino-americanos em 2017, e o IBGE já havia constatado o aumento de 34,2% de casos de depressão entre 2013 e 2019.

O documento lançado anteontem pela OMS tem um objetivo claro: recomendar com veemência o aumento de investimentos em prol da saúde mental em seus países-membros. Para Dévora Kestel, diretora do Departamento de Saúde Mental e Uso de Substâncias da entidade, “Embora a pandemia tenha gerado interesse e preocupação pela saúde mental, também revelou um subinvestimento histórico nesses serviços. Os países devem agir com urgência para garantir que o apoio esteja disponível para todos”. Não custa lembrar que o Brasil cortou 40 bilhões de reais do orçamento do ministério da Saúde, em 2022…

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