Teste de drogas, vacinação e ‘fake news’ marcam último debate presidencial no Chile

José Kast, candidato de extrema-direita pelo Partido Republicano; Gabriel Boric, do partido Aprovo Dignidade. Imagem: Getty Images

Os candidatos presidenciáis do Chile Gabriel Boric, do partido de esquerda Aprovo Dignidade, e o ultradireitista José Antonio Kast, do Partido Republicano, participaram na noite desta segunda-feira (13/12) do último debate antes do 2º turno que acontece no domingo (19/12).

Organizado e transmitido pela Associação Nacional de Televisão (Anatel), o debate teve duração de duas horas e meia. Para a imprensa chilena, o ponto em destaque do evento foi quando Boric apresentou um resultado negativo no teste de uso de drogas, uma suspeita que Kast quis insinuar contra seu adversário.

Isso aconteceu enquanto os candidatos discutiam a legalização do cultivo autônomo da maconha, que Boric apoia e Kast rejeita.

“Não sou usuário de drogas. Levantar a suspeita é o mesmo discurso de toda a direita. Os apoiadores de Kast até inventaram um registro médico falso para mim”, declarou Boric em resposta ao oponente, que havia afirmado que “os dois deveriam fazer um teste de drogas”. No entanto, até o momento, o oponente direita não apresentou nenhum exame.

Em coletiva de imprensa após o debate, Boric ainda foi questionado sobre as circunstâncias em que o teste foi realizado. O candidato respondeu que o exame custa 700 “lucas”, equivalente a 700 mil pesos (cerca de R$ 38 mil) e demora um mês para ficar pronto.

“Chega de invertar mentiras. O que está por trás da pergunta que você está fazendo é tentar presumir que o exame é falso. Chega disso”, disse ainda ao jornalista.

Pinochet de um lado, Bachelet de outro

“Que tipo de presidente você pretende ser?” foi a primeira pergunta do debate, a que Kast respondeu não querer ser um mandatário “que levanta o punho”: “quero ser um presidente que abre a mão e dá as boas-vindas”, declarou o direitista em referência crítica ao símbolo da esquerda de punhos cerrados e levantados para o alto.

Já Boric disse que espera ser o “presidente de todos os chilenos”. “Com tranquilidade, que nossas convicções são inabaláveis e que faremos o possível para construir um país mais justo e igualitário”, afirmou.

Na ocasião, o candidato de esquerda também falou que se encontrou em reunião privada com a Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, que também é ex-presidente do Chile. “Nos reunimos para conversar, assim como me reuni com o presidente Ricardo Lagos. Tivemos uma conversa muito boa, porque devo aprender com seus acertos e erros”, comentou o candidato do Aprovo Dignidade.

Reprodução
Gabriel Boric, do partido Aprovo Dignidade; José Kast, candidato de extrema-direita pelo Partido Republicano

Por sua vez, ao serem questionados sobre quais presidentes chilenos eles admiravam, Kast escolheu Patricio Aylwin (1990-1994), por, segundo o presidenciável, esse ter tido a “difícil tarefa” de liderar a transição para a democracia no Chile. Rapidamente, Boric o lembrou que, no plebiscito de 1989, Aylwin tinha votado no ditador Augusto Pinochet para continuar por mais oito anos no país.

Em relação à gestão de Sebastián Piñera, ambos elogiaram o plano de vacinação contra a covid-19 no Chile.

Boric também falou sobre a disposição de sua coalizão de unir as forças de oposição para além de seu partido. “Vou abrir as portas […]. Não tenho problemas e queremos convocar os mais qualificados”, disse.

“Chega de mentiras”

Ainda no decorrer do debate, o representante do Aprovo Dignidade respondeu a uma série de notícias falsas divulgadas por Kast. Uma delas envolvendo Daniel Jadue, quando o ultradireitista insinuou que o prefeito de Recoleta, do Partido Comunista chileno, “pode se tornar ministro do Interior de Boric”.

Em outro momento, Kast apontou que a Prefeitura de Santiago, liderada pela comunista Irací Hassler, “cancelou ideologicamente” o evento musical Lollapalooza. “Eles cancelaram porque descobriram que é para as raposas e os capitalistas”, disse o direitista. A resposta de Boric foi imediata. “Chega de mentir, José Antonio Kast. No Lollapalooza, o que aconteceu foi um debate sobre a utilização do espaço público pelos vizinhos”, disse.

Durante o debate, o candidato do Partido Republicano tentou se distanciar dos deputados eleitos por sua legenda que fizeram declarações preconceituosas publicamente contra a deputada eleita Emilia Schneider por ser transgênero.

Parte da campanha eleitoral anterior ao segundo turno mostrou os candidatos com tons moderados, em busca pelo voto do centro. A eleição de domingo pode ser a mais polarizada desde 1990, embora, segundo especialistas, a composição do Congresso exigirá consenso para implementar as novas gestões.

No próximo domingo, será definido o próximo presidente do Chile. No primeiro turno, Kast obteve quase 28% dos votos e Boric cerca de 26%.

(*) Com Telám.

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