Bolsonaro ligou para governo da Índia para liberar cloroquina a farmacêuticas que receberam R$ 283 milhões do BNDES

Foto: Carolina Antunes/PR

Por Plínio Teodoro.

Um telegrama do Itamaraty em posse da CPI da Covid mostra a transcrição de um telefonema feito por Jair Bolsonaro (Sem partido) ao primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, pedindo a liberação de uma carga de 530 quilos de hidroxicloroquina para a farmacêutica EMS, do bilionário Carlos Sanchez.

O documento revela que na conversa telefônica, que aconteceu no dia 4 de abril de 2020, Bolsonaro cita textualmente que a cloroquina seria usada para combate à Covid-19 no Brasil, mesmo sem a comprovação científica da eficácia do medicamento.

“O sucesso da hidroxicloroquina para tratar a Covid-19 nos faz ter muito interesse nessa remessa indiana. Estou informado de que um carregamento de 530 quilos de sulfato de hidroxicloroquina está parado na Índia, à espera de liberação por parte do governo indiano. Esse carregamento inicial de 530 quilos é parte de uma encomenda maior, e foi comprado pela EMS”, diz Bolsonaro.

A farmacêutica recebeu dois empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) em 2020, no valor total de R$ 129,2 milhões.

“Adianto haver, também, mais carregamentos destinados a uma outra empresa brasileira, a Apsen. Este, como eu dizia, é um apelo humanitário que submetemos a nosso prezado amigo Narendra Modi, e que, se atendido, poderá salvar muitas vidas no Brasil”, continua Bolsonaro, citando outro laboratório que produz cloroquina e recebeu R$ 94,9 milhões em empréstimos do BNDES no ano passado.

A Apsen pertence ao empresário Renato Spallicci, apoiador contumaz de Bolsonaro.

“O meu na reta”

Dono da EMS, Carlos Sanchez é considerado o “rei dos genéricos” e está na lista da Forbes como 16º homem mais rico do Brasil, com fortuna avaliada em US$ 2,5 bilhões.

Sanchez participou de duas reuniões virtuais com Bolsonaro, nos dias 20 de março e 14 de maio de 2020, e foi um dos empresários que “ovacionaram” o presidente em um jantar no dia 7 de abril de 2021 em São Paulo.

Em discurso durante o evento, Bolsonaro afirmou que “não vou colocar o meu na reta”, em relação às restrições ao Orçamento de 2021, principalmente relativas aos gastos durante a pandemia.

 

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