Por Marcos Vinicius de Freitas Reis.
Desde a conquista das terras brasileiras pelos portugueses a variável religião foi determinante para definição das questões políticas. As autoridades politicas necessitavam do apoio da Igreja Católica para justificar suas ações. Isto é, o projeto colonizador teve respaldo institucional da Igreja Católica, que por sua vez, objetivava a expansão dos seus princípios doutrinários as novas terras conquistas.
Ao longo do período colonial e imperial, o regime de padroado foi importante para manter a aliança entre Igreja e Estado. A construção da identidade brasileira passava pela religiosidade católica que era exercida por quase a totalidade da população que aqui habitava. Aqueles que não se recusassem a praticar a fé católica tinham sanções, algumas realidades até a morte.
Com a proclamação da República, e o início do século XX, a Igreja Católica não era mais a religião oficial do Estado. Entretanto, isto não quer dizer que não tivesse benefícios. Culturalmente o brasileiro era católico. Os bispos e os padres tinham muito poder de barganha com o poder executivo, legislativo e judiciário para manter benefícios as instituições católicas, a exemplo, investimentos públicos a hospitais, escolas, e outras obras sociais administradas por organismos católicos, e ainda impedir o avanço de outros credos e instituições religiosas (vale ressaltar que terreiros de umbanda e centros espiritas tinham dificuldades de funcionamentos autorizados por serem taxados de curandeiros ou charlatões).
Ao longo do século XX, o perfil religioso do brasileiro modificou. A pluralidade religiosa é a nova realidade do campo religioso nacional. As pessoas optaram por outros credos ou também não terem vínculos institucionais com organizações religiosas. O censo realizado a cada década pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aponta uma queda do número de católicos, aumento dos evangélicos, aumento dos sem religião, e considerável aumento de pessoas que dizem ser não cristãs. O Brasil é um país diverso no tocante a matéria de religião ou religiosidade.
As relações entre religião e politica também acompanharam as mudanças do perfil religioso brasileiro. Não apenas a Igreja Católica participa da política, mais sim, diversas instituições religiosas dialogam com o Estado. Cada uma a sua maneira. Destacamos aqui os evangélicos, com a formação das bancadas no poder legislativo, grupos religiosos em seus eventos posicionam abertamente sobre temas nacionais, participação em conselhos, articulação para concessão de rádio e tv, dentre outras formas. Em síntese, dificilmente o Brasil não terá como lidar com o envolvimento dos religiosos na política.
O certo seria religião e política não se misturarem. Religião é assuntos privados e Estado assuntos públicos. O parlamentar que é eleito deve governar para todos e não apenas para sua base religiosa ou a partir de seus princípios religiosos. O que acontece hoje no Brasil, que a fronteira entre a religião e a politica está comprometida. As duas esferas se confundem. Resultado disso: questionamento da laicidade, preconceitos, intolerância religiosa, racismo religioso, dificuldade no ecumenismo, não respeito aos direitos humanos e autoritarismo.
Marcos Vinicius de Freitas Reis – Professor da Universidade Federal do Amapá (UNIFAP) do Curso de Graduação em Relações Internacionais. Possui graduação em História pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e mestrado em Ciência Política pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR). Doutor em Sociologia pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Docente do Curso de Pós-Graduação em História Social pela UNIFAP, Docente do Curso de Pós-Graduação em Ensino de História (PROFHISTORIA). Docente do Curso de Especialização em Estudos Culturais e Políticas Públicas da UNIFAP. Líder do Centro de Estudos de Religião, Religiosidades e Políticas Públicas (CEPRES-UNIFAP/CNPq). Interesse em temas de pesquisa: Religião e Políticas Públicas. E-mail para contato: [email protected]
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