Por Wagner Nabarro.
As ações de empresas são sempre apresentadas como alternativas de investimento, que permitem aplicar dinheiro em empresas em troca de retorno financeiro. No capitalismo atual, no qual as finanças têm papel dominante na economia, onde se localizam as empresas que se utilizam da bolsa de valores?
O mercado de capitais é um ambiente no qual empresas podem arrecadar fundos para investir em suas atividades. Instrumento fundamental do capitalismo, serve para que empresas possam crescer e expandir seus negócios sem depender apenas de seu lucro ou de empréstimos bancários. Por meio da aquisição de ações, por exemplo, uma pessoa pode adquirir direitos societários sobre uma empresa, ao mesmo tempo em que concede parte de seu capital a ela. Embora mais conhecidas, não apenas de ações vive o mercado: existem diversos tipos de títulos, como fundos que investem em setores da economia, em imóveis, títulos que apostam nos preços futuros de mercadorias e opções de compra de outros títulos. Em suma, todos reúnem possibilidades de transferir capital em troca da possibilidade de obter uma renda a partir dele — assumindo, por consequência, o risco de perdê-lo.
O Brasil possui, na atualidade, uma única bolsa de valores para atender seu mercado de capitais: a B3 – Brasil, Bolsa, Balcão é a atual denominação da antiga Bolsa de Valores de São Paulo (popularizada como Bovespa e, posteriormente, BM&FBovespa), sediada no centro antigo da metrópole paulistana, de onde intermedia as negociações de títulos de companhias do mercado brasileiro. Nem sempre foi assim: já houve bolsas na maioria das atuais unidades da federação e, por grande parte da história recente, foi a bolsa do Rio de Janeiro que concentrou grande parte dos investimentos.
As chamadas companhias abertas são aquelas empresas que dividem sua propriedade de maneira total ou parcial por meio da venda de ações no mercado de capitais, concedendo direitos proprietários a pessoas ou empresas que adquirirem os títulos. O mercado de ações é regulado, no Brasil, pela Comissão de Valores Mobiliários, em conjunto com o Banco Central e a própria bolsa de valores. Para abrir seu capital, uma empresa precisa cumprir uma série de exigências, incluindo transparência em sua contabilidade (emitindo relatórios trimestrais e anuais) e uma série de burocracias, como a constante atenção a um grande número de sócios — diferente de uma empresa fechada e familiar, por exemplo. Assim, poucas são as empresas que possuem esse estatuto, sendo empresas que, em geral, possuem uma relativa complexidade em sua organização e em suas finanças.
O mapa da concentração de companhias listadas para negociação de ações na bolsa B3, ao nos revelar a topologia das sedes corporativas das empresas de capital aberto no Brasil, ajuda a evidenciar a concentração espacial do capital no país. É possível observar uma seletividade no fluxo de capitais, que valorizam mais algumas cidades e regiões do que outras. Companhias abertas buscam localizar sua sede em lugares de onde possam acessar rapidamente diversos serviços avançados (administrativos, informacionais, legais e financeiros), mão de obra especializada e fácil acesso a centros financeiros internacionais.
O capitalismo atual, baseado no financiamento cada vez mais internacionalizado de atividades, parece impulsionar essa tendência, concentrando ainda mais as sedes de empresas e todos os serviços associados a elas. Formam-se centros financeiros de acesso internacional que absorvem, por meio das sedes corporativas, o capital das diversas atividades realizadas no território. O capitalismo financeirizado da atualidade mostra-se, assim, um capitalismo crescentemente concentrador, levando à desigualdade não apenas na renda entre a população, mas também na distribuição geográfica do capital.
O estudo das Regiões de Influência das Cidades (REGIC), publicado recentemente pelo Instituto Brasileiro de Geografia (IBGE), nos ajuda a formar uma noção dos centros de controle do território — entre os quais São Paulo, sem dúvida, apresenta preponderância indiscutível e crescente no comando das atividades de grandes empresas. Seria possível uma organização empresarial que apresentasse maior distribuição no território, diminuindo a intensidade da concentração econômica no espaço? Ou centros regionais tenderão ao declínio, em detrimento de grandes metrópoles economicamente inchadas, cada vez mais corporativas e fragmentadas?
Os mapas são uma atualização dos resultados apresentados pelo autor na dissertação de mestrado O mercado de capitais no território brasileiro: ascensão da BM&FBovespa e centralidade financeira de São Paulo (SP), disponível aqui: https://teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8136/tde-28112016-111632/pt-br.php