O ex-presidente do PCB na década de 1980, Remy Fontana, declarou seu apoio à Frente Popular e, em particular, à chapa majoritária constituída por Elson Pereira e Lino Peres, para a disputa da eleição municipal de Florianópolis do presente ano.
Leia a seguir a declaração de Fontana:
– Sou Remy J. Fontana, morador de Florianópolis há 54 anos. Desde 1966 acompanho o processo político local como cidadão, analista e militante:
– como cidadão que exerce e reivindica direitos e cumpre obrigações;
– como analista que estuda, investiga e pesquisa na condição de professor de Ciência Política, na UFSC, por 34 anos;
– como militante de organizações e partidos de esquerda, ou ativista independente:
– Do movimento estudantil na UFSC e UDESC ao sindicalismo docente na APUFSC;
– Em 1982 – nas primeiras eleições diretas para governador, ainda sob a ditadura, coordenei o programa da candidatura de Jaison Barreto, do PMDB progressista da época, numa campanha memorável de grande mobilização que confrontava as forças tradicionais de Santa Catarina. Numa eleição fraudada foi eleito o candidato do PDS, Esperidião Amin, dando continuidade ao domínio oligárquico;
– Em meados dos anos 1980 fui presidente do PCB – Partido Comunista Brasileiro em Florianópolis;
– Em 1988 fui coordenador, com Carlos Faraco, da candidatura de Sérgio Grando (PCB) e Luiz Viegas (PDT), da primeira Frente Popular em Florianópolis (5 partidos, PCB, PDT, PSDB, PSB, PV);
– Por estar ausente do país, num programa de pós graduação, não participei da Frente Popular de 1992, quando foi vitoriosa com Grando e Afrânio; porém elaborei um estudo, a título de um balanço, sobre a experiência da Frente Popular no exercício do poder municipal, que foi incluído como introdução do livro do Grando, “Florianópolis de Todos”, editado em 2000;
– Nas eleições municipais de 2000, fui da comissão de elaboração do programa da terceira Frente Popular, formado por 7 partidos (PPS, PCdoB, PDT, PSB, PMN, PSD, PSC), da candidatura Grando e Lia;
Faço estes registros não para reivindicar qualquer posição pessoal de autoridade ou crédito quanto a enunciados ou feitos políticos, mas antes para resgatar uma trajetória coletiva de lutas de algumas décadas, e desta forma estabelecer conexões entre uma memória política e as exigências das lutas de hoje.
Neste sentido em 2020, é oportuno esclarecer, estamos diante do lançamento da quarta Frente Popular em Florianópolis. Em nenhuma das três edições anteriores a conjuntura esteve tão crítica quanto agora, com o avanço da extrema direita, com o desmonte dos direitos sociais, com ameaças às liberdades e às conquistas populares, à soberania nacional, à democracia, a própria existência da esquerda, enquanto organizações políticas e movimentos sociais, e inclusive ameaças a integridade física de militantes e ativistas sociais.
É diante desta conjuntura tão ameaçadora que os componentes da Frente Popular em formação são chamados a uma grande responsabilidade política: a de constituir e dar organicidade às suas forças, notadamente na sua face mais visível, aquela que compõe a chapa majoritária, isto é, as candidaturas a prefeito e a vice-prefeito.
Na prática isto implica ter-se aí a presença dos dois maiores partidos e dos dois mais expressivos candidatos, nas atuais circunstâncias, respectivamente PSOL e PT, Elson Pereira e Lino Peres.
Estes dois partidos e estas duas candidaturas combinadas, na atual conjuntura em Florianópolis, trazem dois componentes promissores: um razoável apelo eleitoral e uma grande inserção social. O primeiro aspecto, o eleitoral, situa-se no âmbito das regras da institucionalidade liberal-burguesa, enquanto o segundo, o que se remete a base da sociedade, ali onde reside o conflito social, encontra-se a natureza mesma da luta e da natureza das forças de esquerda.
Não podemos, pois, perder de vista este duplo caráter do processo em curso: uma disputa eleitoral, episódio rotineiro, e uma luta social, permanente.
Que os articuladores desta Frente Popular tenham discernimento para assumir esta chapa, tenham grandeza para referendá-la, responsabilidade para sustentá-la e entusiasmo para promovê-la, tornando-a vitoriosa nas urnas, ou projetando-a como força poderosa no combate às forças do atraso, no enfrentamento da agenda neoliberal em sua versão fascistóide, sempre visando a defesa dos interesses populares e o avanço das transformações sociais que apontem para a superação do capitalismo.
5 Setembro 2020