Por Douglas F. Kovaleski para Desacato. info.
Não gosto de futurologia ou adivinhação, mas esse momento de pandemia de uma doença pouco conhecida pela humanidade, exige que repensemos os rumos das sociedades humanas e principalmente que nos preparemos para os futuros possíveis. Para que nos preparemos para o que vem por aí, é necessário compreender o que está acontecendo para que possamos ser agentes em um cenário diferente do atual.
Os meios de comunicação fazem um esforço diário para convencer as pessoas de que vive-se um fenômeno biológico, ao passo que os religiosos apostam em algum tipo de praga e os espíritas, alguma forma de purificação, onde os espíritos inferiores morrerão. Deixando de lado toda a metafísica que paira no ar vamos falar do ciclo de crise capitalista dentro da crise estrutural do capitalismo. Difícil saber se a crise causou a pandemia, sob a forma de uma arma biológica; se a crise foi antecipada pelo coronavírus ou disparada pela pandemia. Mas o que importa nesse momento é olhar para a crise que o capitalismo passa e como a classe trabalhadora pode aproveitar esse momento para propor um outro modo de produção da vida, uma vez que o capitalismo se autodestruirá mais cedo ou mais tarde. O capitalismo deixa cada vez mais claro que é insustentável e incompatível com a vida humana em sociedade.
A crise, com a envergadura que tomou, traz-me grande alegria e para a militância, pois o nível de fragilidade que o “não tão poderoso” capitalismo possui é muito evidente. As bases materiais do sistema estão em risco e a aposta dos capitalistas (aqueles que pensam sistemicamente no sistema) é que a grande parada promovida pela pandemia, seja suficiente e adequada para que haja uma retomada do crescimento do sistema aos moldes do período pós-guerra. Essa aposta pode estar certa, mas pode não estar, afinal nada garante que a retomada do consumo se dê da forma como eles desejam.
A pandemia está matando principalmente a classe trabalhadora, (aqueles que não podem ficar em casa e os que não moram em locais seguros do ponto de vista sanitário). Para uma parcela significativa da população, o consumo está sendo colocado sob questão. O próprio valor de troca pode, a depender da extensão e da severidade dessa pandemia, ser colocado em xeque questionado. Outras formas de vida, agora menos adaptadas às performances consumistas e produtivistas do capitalismo estão surgindo, não como opção, mas como forma de sobrevivência.
“Tudo que é sólido se desmancha no ar”, o desemprego toma proporções alarmantes, as massas estão piorando rapidamente sua já precária condição de vida. Em três semanas de pandemia, só nos EUA, 16 milhões de pessoas ficaram desempregadas, no restante do mundo não é diferente. Os estados neoliberais são os mais atingidos pela pandemia, pois desmontaram seus sistemas de saúde e não têm mais a capacidade (por vários motivos) de proteger a população. Uma grande pandemia de “cólera” da classe trabalhadora contra os capitalistas se desenha no médio prazo (5 a 0 anos). Cabe aos militantes de esquerda trabalhar muito intensamente na formação, na organização e na propaganda. Essa pandemia pode ser uma excelente oportunidade para derrubar o capitalismo que parecia invencível. Como faremos isso? Vamos construindo juntos nas próximas semanas.
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Douglas Francisco Kovaleski é professor da Universidade Federal de Santa Catarina na área de Saúde Coletiva e militante dos movimentos sociais.
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