Por Claudia Weinman, para Desacato. info.
Um amigo, colega de profissão, da Argentina, me escreve pela noite e se diz preocupado com o Brasil. As notícias sobre Bolsonaro tomam de inquietude os/as irmãos/as que enviam solidariedade e esperança ao povo brasileiro, pobre e explorado. Ele me pede para falar da situação e o que posso relatar:
Aflitiva é a palavra. O número de casos de pessoas infectadas com o novo coronavírus no Brasil chega a quase 50 mil e mortes que ultrapassam as 2.906, isso porque faltam testes e os números podem não corresponder à verdade. Em Manaus, na capital amazonense, a Secretaria Municipal da Mulher, Assistência Social e Cidadania (Semasc), que mantém o serviço SOS Funeral, anunciou na segunda-feira, que só existem seis carros funerários para atender a demanda e assim, os/as familiares teriam que aguardar pelos corpos. Na terça-feira, foram mais de 100 sepultamentos que ocorreram de forma coletiva, em valas ditas “comuns”. Manaus segue na linha de frente das capitais com o maior registro de mortes pelo covid-19.
Bolsonaro tem um projeto assassino para os pobres do Brasil, isso não é notícia nova. Desde que permitiu a entrada de agentes policiais nas áreas indígenas, consideradas por ele e seu grupo como “estratégicas para o país”, no início do seu governo, até a falta de responsabilidade sanitária que notavelmente se percebe em suas transmissões ao vivo, nos pronunciamentos oficiais no Palácio do Planalto. Nada que venha do governo do “capitão” é bom. Ele tinha como secretário de Saúde, Luiz Henrique Mandetta, muito conhecido pelos indígenas na política em defesa do agronegócio que tem avançado, inclusive, nos processos de paralisação e revisão dos territórios. Agora, um “empresário da saúde”, Nelson Teich que gerencia esse tema como um troféu mercadológico, outra velha carta na manga de Jair Bolsonaro.
Enquanto se abrem valas e juntam corpos, o governo federal que nunca foi favorável ao isolamento social como prática preventiva da contaminação em grande escala, nos estados do Brasil se afrouxam a quarentena, passo que vai contra a ciência e a própria Organização Mundial da Saúde. Grupos evangélicos conservadores, empresários de diversos setores avançam para colocar na ponta de guerra os trabalhadores e trabalhadoras, os que geram lucro, os que de fato trabalham. E lá estão eles, desprotegidos, desassistidos. Um auxílio emergencial (que não parece emergencial para o governo) foi lançado para trabalhadores informais, microempreendedores individuais (MEI), autônomos e desempregados e segue para sanção um projeto ampliando as categorias. O valor é de R$ 600,00 ou R$ 1, 200,00 no caso de duas pessoas da mesma casa.
O site da caixa econômica informa: “para quem já está cadastrado no Cadastro Único (CadÚnico), ou recebe o benefício Bolsa Família, receberá o benefício automaticamente, sem precisar se cadastrar. As pessoas que não estão cadastradas no Cadastro Único, mas que têm direito ao Auxílio, poderão se cadastrar no aplicativo ou site do Auxílio Emergencial”.
O morador da roça que não possui acesso à internet é prejudicado. O morador da favela e áreas periféricas também. Mais de 5 milhões de brasileiros não tiveram acesso ao direito que na verdade, não é auxílio do governo e sim, uma parte miserável do que o trabalhador deve receber, ainda mais em um contexto de pandemia.
As dificuldades relatadas são diversas. Benefícios negados, problemas do sistema do aplicativo que apresenta o benefício como aprovado, mas o trabalhador não recebe o dinheiro na conta. Nos telefones das centrais tanto do INSS ou Caixa Econômica Federal a espera por um atendimento/orientação é de mais de 40 minutos (se der certo) ou, se dirigir PESSOALMENTE até uma agência para encaminhar possíveis erros cadastrais e outros problemas que não são informados via telefone.
Enquanto o governo finge que analisa, os/as trabalhadores precisam se expor ao trabalho ou então, fazer aquilo que está diretamente ligado com a desigualdade social em um país como o Brasil. É bem verdade que o vírus não escolhe quem, de qual classe vai atingir, porém, umas pessoas possuem mais condições que as outras para enfrentar uma pandemia.
Porém, no meio de tanta desgraça, nos resta a esperança na solidariedade entre o povo, aquelas ajudas que chegam dos movimentos e pastorais sociais, da igreja da teologia da libertação, das organizações populares que vão coletando alimento sem veneno, pães, sabão produzido manualmente e outros itens mais essenciais que são insuficientes mas, ampliam a possibilidade de se ter um pouco de dignidade.
_
Claudia Weinman é jornalista, vice-presidenta da Cooperativa Comunicacional Sul. Militante do coletivo da Pastoral da Juventude do Meio Popular (PJMP) e Pastoral da Juventude Rural (PJR).
A opinião do autor/a não necessariamente representa a opinião de Desacato.info.
#Desacato13Anos #SomandoVozes