Por Caroline Oliveira e Larissa Costa.
Cerca de 200 atingidos pelo rompimento da barragem do Córrego do Feijão, em Brumadinho, bloqueiam a linha férrea da mineradora Vale, em Mário Campos, na região metropolitana de Belo Horizonte, desde as 6h desta terça-feira (19). A ação é organizada pelo Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e cobra justiça e a devida reparação dos danos causados.
Em Brumadinho, até o momento foram contabilizadas 249 mortos, além de 16 desaparecidos.
Segundo o atingido Tomas Nedson, morador de Citrolândia, bairro de Betim, a Vale não cumpre com as obrigações. “A postura da Vale é totalmente contrária ao que a Justiça determina. Até hoje, a mineradora não faz o que deveria fazer na distribuição de água para os atingidos: não paga o [recurso] emergencial direito. Nas audiências de negociação, a empresa manda os advogados que não têm poder de decisão e posterga cada vez mais a reparação. Enquanto isso, os atingidos adoecem”, afirma.
Uma das pautas centrais da manifestação, de acordo com Pablo Dias, da coordenação do MAB, é que os diretores da Vale participem das reuniões de negociação com os atingidos. “Os advogados vão para as reuniões com as decisões tomadas, nunca é um processo de diálogo. Os atingidos estão cansados de enrolação dos representantes da empresa, porque nenhum deles tem autoridade para tomar medidas necessárias para resolver a vida o povo”, explica.
A previsão, segundo o MAB, é manter a manifestação até que haja a negociação direta com os diretores da mineradora. A Polícia Militar está o local e os manifestantes já organizam uma cozinha para a produção do almoço.
Pautas
A ação exige a continuidade do auxílio emergencial destinado às famílias vítimas do crime até que haja o restabelecimento social e financeiro do local. O subsídio tem prazo de um ano e ocorre desde o rompimento da barragem, em 25 de janeiro de 2019. A questão está em tramitação no Tribunal de Justiça de Minas Gerais, mas sem data para julgamento.
Outra exigência é a contratação de assessorias técnicas independentes, ou seja, sem influência da empresa. Os atingidos por barragens já fizeram sugestões para a composição, por compreenderam a importância de estar presentes nesses espaços. A empresa, no entanto, fez uma contraproposta, que ainda não teve definição.
Também pedem pela continuidade das buscas por vítimas em Brumadinho, que, no momento, somam 16 desaparecidos, e uma reunião dos atingidos com o alto escalão da Vale. Desde o rompimento da barragem, a empresa se nega a conversar diretamente com o movimento – as conversas têm se dado somente com o Ministério Público e algumas autoridades.
Até mesmo nas audiências na Justiça, os responsáveis enviam representantes para tratarem do assunto. São justamente eles, entretanto, os responsáveis também pelas decisões, o que acaba por atrasar o encaminhamento das propostas.
Apesar de boa parte do meio ambiente da região já estar contaminado pela onda de rejeitos da Vale, os moradores exigem medidas urgentes para que a contaminação não atinja outras áreas. Em relação às áreas já poluídas, como o Rio Paraopeba e o Rio Doce, eles pedem análise e monitoramento independentes sobre a qualidade do ar, solo e água.
No próximo dia 21, em Belo Horizonte, ocorre uma audiência sobre auxílio emergencial e, no dia 28, outra audiência sobre as assessorias técnicas.
“Até agora a resposta da Vale sobre as assessorias técnicas foi vergonhosa, ela rebaixa o papel, a quantidade de técnicos e querem que as assessorias sejam mais fracas possíveis. Se depender da empresa, não teria assessoria técnica”, critica Pablo.
Outro lado
Em nota, a Vale afirma que não possui linha de trem que circule na cidade ou próximo à localidade de Mário Campos, onde ocorre a ação. Além disso, a empresa “destaca que realiza encontros regulares com representantes legítimos dos atingidos pelo rompimento da barragem B1, em Brumadinho, visando uma reparação célere e respeitosa”, diz o texto.
O MAB, entretanto, respondeu em nota que a mineradora “mente ao se eximir de responsabilidade sobre linha férrea”. O movimento aponta que a Vale é acionista da MRS, concessionária da linha férrea ocupada, que transporta em grande medida o minério da empresa. O texto também reafirma a necessidade da negociação de “uma reparação justa, sem intermediários, com a presença dos executivos da empresa que tenham poder de decisão”.