Em novas conversas divulgadas pela reportagem do The Intercept Brasil nesta quinta-feira (29), procuradores da Lava Jato admitem ter utilizado a imprensa como ferramenta para manipular suspeitos da operação e intimidá-los a fazer delações. Isso comprova que o procurador Deltan Dallagnol mentiu ao negar publicamente que os agentes vazassem informações sobre os procedimentos da força-tarefa.
Além de participar de todos os grupos que planejavam, discutiam e realizavam esses vazamentos seletivos, Dallagnol foi responsável direto por um desses casos. Ele e o procurador Orlando Martello anunciaram em junho de 2015, em um dos chats privados, que vazaram a informação de que os Estados Unidos iriam ajudar a investigar Bernardo Freiburghaus, um dos operadores da Odebrecht, para repórteres do Estadão. O objetivo era pressionar o investigado a realizar delações.
Dallagnol escreveu ao repórter do Estadão contando o caso e perguntou se ele tinha interesse em publicar a história. “Hoje ou amanhã, mantendo meu nome em off. Pode falar fonte no MPF”, disse. O repórter afirma que iria publicar e que a reportagem seria manchete no dia seguinte. Em seguida, Deltan comenta o seu feito no grupo privado com os demais procuradores, dizendo que tentou ler a reportagem, mas não conseguiu. “Amanhã vejo. Vamos controlar a mídia de perto”, afirmou.
Depois que a reportagem foi publicada, Dallagnol comentou no chat que a estratégia, a partir dessa divulgação, seria dizer a Bernardo Freiburghaus que ele “perderia tudo” e “colocar ele de joelhos e oferecer redenção”, em tentativa de fazer o operador delatar outras pessoas. Porém, no final das contas, Freiburghaus não delatou.
O que faz desse acontecimento ainda mais relevante é que Dallagnol negou publicamente diversas vezes que os agentes da Lava Jato tenham feito qualquer vazamento. Em uma entrevista para a BBC Brasil, após um discurso que ele proferiu em Harvard, em abril de 2017, Dallagnol disse que “agentes públicos não vazam informações” e que a brecha estaria no “acesso inevitável a dados secretos por réus e seus defensores”. Quando perguntado diretamente se a força-tarefa havia cometido vazamentos, o procurador respondeu: “Nos casos em que apenas os agentes públicos tinham acesso aos dados, as informações não vazaram”.