Em transmissão ao vivo no YouTube nesta segunda-feira (26), os jornalistas Amanda Audi e Leandro Demori, do The Intercept Brasil, divulgaram áudios que revelam atuação da corregedoria do Ministério Público Federal (MPF), em parceria com procuradores da Lava Jato, para abafar a confissão do procurador Diogo Castor de Mattos que pagou um outdoor em “louvor” à atuação da operação na cidade. A suspeita chegou a ser citada ao MPF, mas não houve uma investigação formal do caso.
Nos áudios, Castor de Mattos confessa que pagou pelo outdoor aos procuradores e à corregedoria da MPF. O coordenador da força-tarefa, Deltan Dallagnol, logo se posicionou e chegou a intermediar conversas com Oswaldo Barbosa, do MPF, para proteger Castor de Mattos, mesmo sabendo da confissão de culpa. A intermediação deu certo, pois mensagens também divulgadas pelo Intercept indicam que o corregedor disse a Dallagnol que iria suspender apurações e manter o caso em segredo.
Desde então, nenhum procedimento foi instaurado para apurar a conduta do procurador. Vinte dias depois da confissão, em abril deste ano, o Conselho Superior dos Ministérios Públicos (CNMP) arquivou o caso e Diogo foi afastado com atestado médico.
Tudo indica que os procuradores entenderam que essa ação do Castor de Mattos foi de fato uma ilegalidade e mostraram grande preocupação. Inclusive, chegaram a preparar uma nota oficial caso o ocorrido viesse à tona. “Depende da repercussão que isso tiver, no futuro nada obsta que ele retorne”, disse um dos procuradores, Orlando Martello, também mencionando o possível afastamento de Castor se o caso viesse à tona.
O outdoor financiado por Diogo foi instalado em março ao lado do aeroporto de Curitiba e trazia imagens de nove procuradores e a seguinte mensagem: “Bem-vindo a República de Curitiba – terra da Operação Lava Jato – a investigação que mudou o país. Aqui a lei se cumpre. 17 de março, cinco anos de Operação Lava Jato – O Brasil Agradece”. Na época, a força-tarefa logo afastou qualquer acusação de que o outdoor tivesse sido financiado por procuradores.
No entanto, um coletivo de advogados entrou com uma representação no CNMP alegando que a propaganda feria o princípio da impessoalidade e exigiu investigação sobre sua autoria e financiamento. Em resposta, o relator do caso no conselho, Luiz Fernando Bandeira de Mello, alegou que “a publicidade não foi contratada por nenhum membro do Ministério Público”. O caso seque arquivado pelo CNMP.
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