A polêmica história das ameaças na 13ª Feira do Livro de Jaraguá do Sul

Foto: OCPonline

Coordenador artístico do evento, Carlos Henrique Schroeder
fala dos ataques contra Miriam Leitão por ativistas de direita

Por Sérgio Homrich.

A 13ª edição da Feira do Livro de Jaraguá do Sul, que acontece de 8 a 18 de agosto, tornou-se foco da mídia nacional depois que a sua coordenação decidiu “desconvidar” a jornalista Miriam Leitão e o sociólogo Sérgio Abranches, a partir de ameaças feitas por um grupo de jaraguaenses mobilizados via redes sociais. A petição ultrapassa as 3 mil assinaturas. A pretexto da falta de segurança, o atual coordenador da Feira, escritor e crítico literário Carlos Henrique Schroeder afirma que, “em um primeiro momento”, foi contra a decisão de cancelar a participação de Miriam e Abranches, “mas o grau de intolerância foi uma coisa absurda, o circo estava armado, depois de anunciado o cancelamento surgiram centenas de mensagens do tipo “isso mesmo, parabéns, não queremos essa mulher aqui”.

Coordenador geral de nove edições da Feira do Livro de Jaraguá do Sul, Carlos Schroeder diz que não entende como Miriam Leitão virou alvo dos ativistas de direita só porque, hoje, se pronuncia contra um determinado partido político, sendo que se pronunciou várias vezes contra os governos anteriores: “Durante o último mandato do governo Lula e nos governos Dilma, ela foi uma das críticas mais ferrenhas, e aí todos achavam lindo. Agora, quando ela se posiciona no atual governo, não é mais legal?”, questiona, citando o exagero de considerarem-na militante de esquerda, “por ela ter feito parte do PCdoB, há 40 anos, e ter sido torturada pela ditadura quando estava grávida”.

Miriam e Abranches haviam sido convidados a participar do painel “Biblioteca Afetiva”, um debate informal sobre a formação enquanto escritores e jornalistas e sua relação com os livros. “Eles não falariam sobre política, muito menos de economia, porque a vida não passa só por isso”, explica Schroeder, lembrando que imediatamente após o anúncio do convite iniciou-se uma avalanche de xingamentos indesejáveis e agressivos – “vamos jogar ovos, tratar no laço, na porrada”. Sobre o fato de que o comando da Polícia Militar não foi sequer acionado para garantir a segurança dos convidados, o escritor se defende: “Tem sentido você fazer um evento de literatura que precisa ser cercado pela polícia? Faço o debate, a PM coloca quatro policiais lá dentro e alguém atira um ovo, joga uma pedra nela. Prender, depois que jogou, fazer o quê?”

Esta foi a primeira vez que a coordenação da Feira do Livro teve que cancelar a participação de convidados. “Nunca tivemos um incidente deste tamanho, nunca um convidado nosso foi ameaçado”, conta Carlos Henrique Schroeder, citando nomes importantes da literatura nacional que vieram a Jaraguá do Sul nos últimos 13 anos, como Ziraldo, Maurício de Souza, Luiz Fernando Veríssimo e Gregório Duvivier. “A gente trouxe Duvivier em 2015 e não houve nada, ele sempre teve um posicionamento ligado à esquerda e ninguém falou nada, mas nos últimos dois anos a polarização chegou em um nível realmente muito forte”. Schroeder lamenta que a cidade e a Feira tiveram uma repercussão nacional muito negativa – “a gente acabou levando pau de todo lado, de esquerda, de direita, do centro, uma por ter cancelado a vinda e outra, pelo motivo do cancelamento, as ameaças. Vamos batalhar para fazer o melhor evento possível e reconstruir a imagem da Feira”.

Pequenas histórias

Carlos Henrique Schroeder (na foto de capa) é editor da Design Editora, já publicou oito livros e ganhou o Prêmio Clarice Lispector de Literatura, com “As certezas e as palavras” (2010, Record). Seu último livro, “História da Chuva”, foi lançado em 2015. Em março do próximo ano, pretende lançar um livro de contos e narrativas breves. “São pequenas histórias, estou empolgadíssimo. A literatura é mediada pelo conhecimento, a gente está sempre aprendendo enquanto escreve. O único momento que a literatura não é individual é numa Feira do Livro: ali a experiência é coletiva, quando as pessoas tocam no livro, escutam o autor”, comenta o Carlos Henrique Schroeder, que é natural de Trombudo Central (SC) e reside em Jaraguá do Sul. “Por tudo o que passei nos últimos dias, vou rever os contos que escrevi, dar um outro toque, querendo ou não, a gente acabou aprendendo muito com tudo o que aconteceu”, afirma.

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