Retrospectiva: os sonhos do “fã”, na criatividade de Guigo Ribeiro

Imagem: Amarildo#AOutraReflexão
#SomandoVozes

Por Guigo Ribeiro, para Desacato.info.

Pra que não digam que os sonhos não podem ser realizados, para que não julguem o querer como algo não potente e pulsante, para que se entenda a grandeza de correr atrás do sonho, eis o momento. O ídolo com o fã. A insignificância na mesa. O Capitão sonhou tanto estar perto de seu ídolo que conseguiu o encontro. Para isso, escondeu a truculência de suas palavras, não se mostrou tão firme quanto ao que entende por ser bom e usou um perfume novo. Os momentos que antecederam foram de grande ansiedade, mas algum controle ativou nele o modo believe in yourself. Afinal, todos esses passos pelos dias foram para o quê? Para, enfim, estar no mesmo espaço físico que o seu guru da ascensão. Para o seu mentor no ser. Para o seu “eu” em próximas encarnações. Queira Deus, pensava.

Lá estava. Poucos antes, o Capitão necessitou de alguns minutos em frente ao espelho. Olho no olho. Posição da gravata. “eu vou conseguir! Eu mereço! Pela nação! Eu vou conseguir! Eu vou conseguir uma self”.
De início, presentes, abraços, aplausos. O ídolo cumpria agenda e o Capitão realizava sonho. Nunca tente dimensionar o que é para o outro a experiência. Apenas cultive. E o ídolo cultivava. Percebeu que sem abrir a boca, teria tudo que gostaria. O Capitão estava dando tudo pra ele e sem qualquer conversa. Que lindo gesto com nossos irmãos lá de cima, não? Discursou:

Pelos presentes, agradeço o carinho em me receberam para este momento que muito representa pra mim e pra minha família.

O ídolo com a cara de nada que tem. Estar aqui hoje é falar ao mundo de um novo tempo que começa no Brasil. Falei isso no discurso que fiz pra amigos no Palácio poucos dias antes de vir pra cá. Aqui começa um tempo em que estaremos abertos às armas, ao extermínio e, em igual proporção, Deus. Tudo no mesmo prato. E com nosso incentivo.

O ídolo com a cara de nada que tem.

Não repetirei Davos quando quis ser objetivo e me taxaram de burro. Farei um discurso construtivo e necessário para este momento, momento este em que duas nações irmãs se abraçam numa fria noite de inverno americano e comem marshmallows. Ídolo, me abraça?

O ídolo ainda com a cara de nada que tem.

Então, caros, fora PT, fora viadagem, aqui é caveira e vamos seguir fortes. Compreendeu. Tá perdoada a espionagem com a guerrilheira. E acredito na força do país que meu ídolo conduz para acabar com o problema na Venezuela.

O ídolo quase cochilou.

Fez arminha com a mãe e foi aplaudido.
Nos bastidores, papos, comes e bebes. A sensação de estar ali perto de quem sempre quis estar. Até imitou seu ídolo no jeito de sentar, poxa. O Capitão ensaiou se aproximar para o pedido de foto, mas viu seu sonho ficar longe quando outros o ocuparam de qualquer coisa. Não faz mal. Somos uma família, pensou. E teria outras oportunidades. Bastaria deixar ele por perto, abrir as portas do Brasil e assim sempre vê-lo.

– Ele é meu ídolo. Inclusive… vou fazer algo sobre. Precisamos não só do meu ídolo por lá, mas de todos que queiram estar! Oh Paulo! Paulo… tenho uma ideia nova. Vamos conversar!

Guigo Ribeiro é ator, músico e escritor, autor do livro “O Dia e o Dia Que o Mundo Acabou”, disponível em Clube de Autores.

 

 

A opinião do/a autor/a não necessariamente representa a opinião de Desacato.info.

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