Por Jamile Araújo
“Nasce o sol a dois de Julho, brilha mais que no primeiro, é sinal que neste dia até o Sol é brasileiro. Nunca mais o despotismo regerá nossas ações, com tiranos não combinam, brasileiros corações”.
É assim que inicia o hino da Independência da Bahia. E não foi diferente no desfile do Dois de Julho deste ano. O brilho não vinha apenas do sol. Vinha da chama do fogo simbólico que vem todos os anos de Cachoeira para Salvador, passando por várias cidades no caminho, representando a união do povo que travou a luta pela independência.
Nas ruas, o som e a beleza das fanfarras das escolas, dos grupos de cultura, batucadas de movimentos populares. No caminho, famílias que enfeitam as casas para o concurso de fachadas que foi retomado em 2018. Este é o cenário encontrado por quem faz o trajeto que sai do bairro da Lapinha em direção à Praça Dois de Julho, mais conhecida como Praça do Campo Grande, passando antes pelos bairros do Barbalho, Santo Antônio e Pelourinho.
Músicas, cartazes e faixas mostram que o Dois de Julho, além de um dia de comemoração pela vitória contra o exército Português, é um dia de luta. Dia de relembrar a garra, bravura e participação popular na luta pela Independência, que se efetivou no segundo dia do mês de julho de 1823. Também é dia de trazer novas e velhas bandeiras por libertação e direitos.
As mulheres no fronte pela Independência
Ao contrário do que é contado nos livros, nas escolas, na “história oficial”, o papel das mulheres nas lutas e mobilizações por transformações foi e é muito importante. Não tem lugar para “sexo frágil” quando se fala em mulheres do povo.
Na história da luta pela independência da Bahia não foi diferente. Maria Felipa, Joana Angélica, Maria Quitéria e inúmeras mulheres desconhecidas e anônimas são símbolos de resistência e luta de um povo que buscava a liberdade.
Maria Felipa, da Ilha de Itaparica, liderança de um grupo de mulheres que queimou embarcações portuguesas, ficou conhecida por um episódio em que deu uma surra de cansanção nos portugueses.
A freira Joana Angélica, por outro lado, do Convento da Lapa, que resistiu e se lançou na frente da tropa portuguesa, tentando impedi-los de entrar no Convento em busca de combatentes baianos pró-independência, foi assassinada pelo exército português.
E ainda, Maria Quitéria, uma jovem de Feira de Santana, que pegou o uniforme do cunhado e fugiu de casa, se disfarçando de homem para poder lutar junto ao exército baiano. Ficou conhecida como soldado “Medeiros” e foi a primeira “Soldado” mulher do Brasil.
Independência do Brasil na Bahia
O Dois de Julho não representa apenas um evento local. Sua relevância vem do fato de que a Independência do Brasil, embora tenha seu marco conhecido como o grito do Ipiranga em 7 de setembro de 1822, só se concretizou quase um ano após, na Bahia, onde de fato o exército português foi derrotado e expulso do território.
Foi um exemplo de luta que reuniu diversos setores da sociedade, indígenas [caboclos], negros [escravizados ou libertos], pescadoras e pescadores, artesãos, de diversos locais da Bahia, da Ilha, região metropolitana, recôncavo, tendo a participação até de pessoas do Sertão, Chapada Diamantina e Caetité, em prol da libertação.
Aila Santos, estudante da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – UFRB e moradora de Cruz das Almas, participou pela primeira vez do desfile em Salvador. Para ela foi uma grande experiência, ver quantidade de pessoas nas ruas, reafirmando e relembrando o que foi o Dois de Julho. “Ver tudo isso nas ruas, das mais diversas formas de representações, foi um momento de reflexão e motivação para seguir na luta que os meus antepassados começaram”, afirma Aila.
Aila comenta que é possível observar no recôncavo o quanto o processo de luta na Independência influenciou na sua estrutura e o quanto representou na vida das pessoas. “É visível através da quantidade de quilombos que aqui temos, outro exemplo é a residência da UFRB de Cachoeira que leva o nome de Maria do Paraguaçu, mulher quilombola, conclui.