Por Claudia Weinman, para Desacato. info.
Andávamos pela Waldemar Rangrab em São Miguel do Oeste/SC, na quarta-feira, 30 de maio. Conversávamos com os moradores, pessoal que passava pela rua no horário da tarde. Entrevistamos o “Pisca”, morador do São Jorge, um senhor com mais de 60 anos. Depois com outro senhor que andava por aquele sol quente carregando uma sacola com alfaces e seguimos em direção ao centro.
Gravamos o Jornal dos/as trabalhadores/as dessa semana assim. Falando com as pessoas. Entre uma conversa e outra, um riso, uma preocupação, um desconhecimento.
– “O senhor está por dentro do que está acontecendo com a Petrobras”?
– “Não, não tenho conhecimento” ou “Estou assistindo pouco a TV”.
– “O que você está achando da greve, dessa movimentação toda”?
– “Não sei. Mas está difícil. Do jeito que tá não pode continuar”.
O assunto não passou muito disso na rua. Enquanto abordávamos os motoristas que faziam filas de muitas quadras, um olhar que outro mostrava-se perdido. A preocupação com o combustível maior do que qualquer coisa, até do que originou isso tudo. Nada sobre as privatizações, o panorama nacional, o governo. Mas uma esperança de que com a volta da liberação do combustível parte grande do problema já estaria resolvido.
Então me aproximei do gerente do posto de combustível. Ele já observava de longe que estávamos ali, ao redor, filmando (eu, Julia e Paulo). Perguntei:
“O senhor pode falar com a gente”?
Em seguida me diz: – “Não! Mas está tudo tranquilo”.
Claro, não era a imprensa tradicional ali, buscando informações. Nada estava tranquilo, mais do que óbvio. Filas imensas, pessoas que não tinham referências sobre a situação do país a não ser o que viram vertiginosamente na televisão ou na rádio da cidade que transmite a partir do interesse empresarial com a informação paga, manipulada, vendida.
O gerente, como tantos ali, subordinado a lógica do patrão, virou às costas e seguiu com a fala: “Está tudo tranquilo. Chegaram 25 mil litros de gasolina pra gente ainda no sábado (26) e liberamos hoje (quarta-feira, 30)”.
Acabou o assunto. Nada mais poderia ser dito, nem explicado. Se o combustível chegou no sábado, poxa, já era quarta! E isso não era tudo que buscávamos. Nossa preocupação não se resumia a falta de gasolina do fulano ou ciclano ou para abastecer o carro que a gente mesmo usa para trabalhar. Enfim, seguimos o nosso trabalho de conversar com as pessoas para depois vestir as palavras no jornal.
Mais à frente, um grupo de amigos conversava:
“Não acho que as pessoas têm que se manifestar. Imagina se os bombeiros resolvem reivindicar, depois a polícia, depois outro grupo. O governo não vai aguentar”.
E seguiram:
“Por isso eu não gosto de movimento nenhum. Tem que ir lá em Brasília, explodir tudo. Não aqui, não atrapalhar aqui”.
Depois de tudo, edição do jornal pronta, cada visualização é uma conquista. Uma pessoa a mais que não foi enganada com a informação que recebeu.
_
Claudia Weinman é jornalista, diretora regional da Cooperativa Comunicacional Sul no Extremo Oeste de Santa Catarina. Militante do coletivo da Pastoral da Juventude do Meio Popular (PJMP) e Pastoral da Juventude Rural (PJR).
Que absurdo como se a gasolina nos postos resolvesse todos os problemas….ACORDA GENTE estamos sendo roubados.. mas não enganados….. pq tá aí pra quem quiser ver a arroubalheira q se instalou no nosso Brasil…. Estamos sendo manipulados como marionetes porque queremos, porque somos acomodados.
É bem assim mm…..pesoas completamente desligads e manipuladas pela midia tradicional.