Por Sofia Lorena.
Combatente anti-apartheid na África do Sul e mulher de Nelson Mandela quando ele esteve preso em Robben Island, Winnie Madikizela-Mandela morreu esta segunda-feira, aos 81 anos.
A sua assistente pessoal, Zodwa Zwane, confirmou a morte. Segundo o porta-voz da família, Victor Dlamini, num comunicado divulgado pouco depois, a mulher a que alguns sul-africanos chamam “a mãe da pátria”, “morreu em paz e rodeada pela família”.
“Ela lutou valentemente contra o estado de apartheid e sacrificou a sua vida pela liberdade do país”, lê-se no comunicado. “Ela manteve viva a memória do seu encarcerado marido Nelson Mandela nos anos de Robben Island e ajudou a dar à luta pela justiça na África o Sul um dos seus rostos mais reconhecíveis.”
Nascida em Bizana, na província do Cabo Oriental em 1936, Madikizela-Mandela mudou-se para Joanesburgo onde estudou para ser assistente social. Em 1957, conheceu o advogado e activista anti-apartheid Nelson Mandela – casaram um ano depois.
Tiveram dois filhos juntos mas a vida de casal não durou muito. Mandela foi preso em 1963 e condenado a prisão perpétua por traição, acabando por ser libertado em 1990.
Em 1969, Madikizela-Mandela tornava-se numa das primeiras pessoas detidas ao abrigo da Sessão 6 da Lei do Terrorismo de 1967. Passou 18 meses em solitária na Prisão Central de Pretória, antes de ser acusada sob a Lei da Supressão do Comunismo, de 1950.
Em 1991, foi condenada por rapto e cumplicidade no ataque a Stompie Seipei, um activista adolescente que foi morto por um membro dos seus guarda-costas, o Mandela United Football Club. Os guarda-costas tinham raptado Seipei, de 14 anos, em 1989, juntamente com três jovens, da casa do líder religioso metodista Paul Verryn.
Madikizela-Mandela foi condenada a seis anos de cadeia, mas em recurso a pena foi reduzida a uma multa e a dois anos de pena de prisão suspensa.
O casamento de Nelson e Winnie começou a correr mal pouco depois da libertação do que viria a ser o primeiro Presidente negro da África do Sul, em 1990. O divórcio chegou só 1997, 37 anos depois de se terem casado e três anos depois da eleição do Nobel da Paz para a presidência.
Nas primeiras eleições democráticas de 1994, em que Mandela foi eleito Presidente, Madikizela-Mandela foi eleita deputada. Pouco depois era nomeada ministra-adjunta das Artes e da Cultura – foi despedida por Mandela depois de uma viagem não autorizada ao Gana.
Nunca mais perdeu o seu lugar no Parlamento, mas nos últimos anos participou em muito poucas sessões. Desde o início do ano, tinha estado algumas vezes hospitalizada.
Em 2016, três anos depois da morte do ícone maior da luta contra o apartheid e da reconciliação sul-africana, Madikizela-Mandela recebeu a Ordem de Luthuli pela “excelência da sua contribuição na luta pela libertação do povo da África do Sul”.