O governo do Estado divulgou na noite da última terça-feira (14), o documento enviado ao Comando de Greve do Cpers – sindicato de professores estaduais – em que anunciava a decisão de “suspender qualquer negociação (…) enquanto perdurar a paralisação”. Em outras palavras, era um aviso de que, enquanto a categoria seguir com a greve, o governo não deve sentar mais para dialogar.
Segundo informações divulgadas no site do governo, “o diálogo com os professores será mantido por meio das Coordenadorias Regionais de Educação (CREs)”. “O compromisso de preservar o diálogo sobre a qualidade da educação está mantido, mas neste momento temos de retomar a normalidade das aulas”, diz o texto citando o secretário da Educação, Ronald Krummenauer.
O governo defende que avançou em, “pelo menos”, oito pontos que eram demandados pelos professores, como a garantia de “não punição de grevistas, tampouco demissão de contratados”, “retirada de regime de urgência de projetos que tratam da reestruturação do IPE”, “pagar primeiro os servidores que recebem menores salários” e “garantia de pagamento em dia da folha e de quitação do 13º salário a partir de 30 de dezembro – medidas condicionadas ao sucesso da venda do excedente acionário do Banrisul e da adesão do Rio Grande do Sul ao Regime de Recuperação Fiscal dos Estados”.
Na tarde desta quinta, em entrevista à Rádio Gaúcha, o secretário Krummenauer reiterou o teor do documento, explicando que este fora elaborado depois da reunião ocorrida com o sindicato, na semana passada.
“A reunião se deu a contento, todas as negociações que ocorreram com o Comando de Greve sempre ocorreram da melhor forma possível”, disse ele. O secretário disse ter recebido com “surpresa” a notícia de que o Cpers não aceitou a proposta oferecida há uma semana. Na análise dele, a greve já vinha “perdendo força”, desde que o governo quitou os salários na metade do mês de outubro e adotou, pela primeira vez, a prática de pagar primeiro os menores salários. “A negociação foi encerrada no sentido que não temos mais o que negociar. Já chegamos ao limite”.
A presidente do Cpers, Helenir Aguiar Schürer, não tem a mesma visão. Ela afirma que a categoria segue buscando negociar. O documento entregue ao sindicato na véspera do feriado de quarta-feira (15), segundo ela, foi encaminhado para discussão nas bases da categoria, que já está realizando plenárias. A partir desta sexta, o Comando de Greve se reúne para ter uma resposta da categoria. Ainda não há decisão se será realizada uma nova assembleia.
“O governo apresentou uma proposta depois de 54 dias de greve, ele já demonstrou na trajetória da greve a pouca disposição para a negociação. O que nos interessa, que é saber se o 13º vai ser pago dia 20 de dezembro ou não, não sabemos. O condicionante de terminar o parcelamento, até o dia 30 de dezembro, é se venderem ações do Banrisul, se fizerem a renegociação da dívida. Nós não vamos botar a nossa assinatura nisso, somos contrários a essas duas questões”, diz Helenir.
Na quarta, o sindicato postou em sua página oficial no Facebook: “Não podemos mais admitir que Sartori desrespeite nossos direitos, não vamos mais aceitar respostas evasivas. Exigimos o que é nosso: garantia dos salários pagos em dia, garantia do pagamento do 13º e abertura de uma Mesa de Negociação para discutir a recuperação das perdas inflacionárias (que já chegam a 21,85% somente no governo Sartori)”.
Condições de recuperação de aulas
Em uma notícia publicada no site da Secretaria Estadual de Educação (Seduc), no último dia 7, representantes do governo se dizem surpreendidos com uma condição que teria sido imposta pelo sindicato: retomar as aulas, depois que os professores tirassem 45 dias de férias.
A secretária-adjunta, Iara Wortmann, é citada dizendo: “Essa foi a grande surpresa da proposta trazida pelo sindicato. Desde 1979, na primeira greve do magistério, até hoje, é a primeira vez que vejo apresentarem uma proposta dessas: encerrar a greve, fazer as férias dos professores e voltar depois para cumprir o ano letivo de 2018”.
Porém, segundo Helenir, não foi esta a questão colocada pelo sindicato. “Essa é uma deturpação de uma discussão que eles não foram sérios em fazer. As escolas do Rio Grande do Sul não têm condições mínimas, para dar aulas de qualidade, no verão. Não têm ventiladores, os que têm fazem tanto barulho que, quando eles ligam, a gente desliga porque não tem como falar com o ventilador, nem todas têm ar-condicionado. Imagina uma criança, num sol de 40ºC, qual será a capacidade dela de prestar atenção e absorver o que está sendo repassado? Quase nula. Mas para o governo o que interessa é recuperar aulas, não a aprendizagem dos alunos”, explica ela.
Fonte: Sul21