Por Waldir Rampinelli.
Caminhei, agora de manhã, pelas ruas de Coyoacán. Respirava-se um ar de dor e de espanto. Pessoas sentadas nos bancos do jardim, tomando seu atole e olhando pra lugar nenhum à espera, talvez, de alguma resposta: “Por qué nos há tocado esto, otra vez?” Neste bairro refugiou-se o genocida Hernán Cortez, em 1521, logo após massacrar os mejicas, em Tenochtitlán, pois não aguentava o cheiro de morte da cidade destruída.
Ontem (19/09), as pessoas se organizaram de maneira rápida e eficaz para atender quem estava soterrado. A força da juventude apareceu mais uma vez, quer escavando escombros com as mãos, quer levantando o punho pedindo silêncio para escutar gemidos esperançosos, quer gritando “Viva México!” pelo vivo que saía do edifício caído.
A televisão não deu atenção às cadeias humanas destes brigadistas, que sem serem convocados, assumiram um papel protagônico na salvação das pessoas. É o medo de que os organizados de hoje, resolvam atuar politicamente, amanhã. Afinal, este país vem experimentando uma decomposição social há mais de trinta anos, devido à sua submissão aos interesses dos Estados Unidos e por conta dos sucessivos governos corruptos que chegaram ao poder.
O capitalismo destruidor, na sua forma mais selvagem, a neoliberal, predomina com força por aqui. A Revolução Mexicana, de Zapata e Villa, foi assassinada pela burguesia que assaltou o poder. Resta, apenas, a urgente necessidade de outra.
O dia em que o povo se der conta da força que tem e passar a acreditar na sua própria organização, todos estes governos serão varridos do mapa da terra.
O México, hoje, é uma cidade alisada pelo silêncio e pela morte, diria Júlio Cortázar. Do meu stúdio, só escuto o ruído das sirenes e o barulho dos helicópteros. Mas o grito do povo diz: O México segue de pé!
Na foto, Igreja de Coyoacán, do período colonial, com sua cruz espatifada.