Por Ademar Lourenço, de Brasília.
26 Janeiro, 2017 Mais antiga que disco de vinil. Querer mudar o mundo com o poder das redes sociais é uma moda do longínquo ano de 2013. Não é mais possível fazer o mesmo que foi feito nas “Jornadas de Junho” do Brasil ou na chamada “Primavera Árabe”.
Naquela época, os usuários tinham mais controle sobre as redes sociais. Elas davam às pessoas comuns a oportunidade de pautar o debate público. Mas como diz o ditado, esmola demais o santo desconfia.
Antes de 2014, o que você postava em uma página do Facebook aparecia automaticamente para mais de 12% de seus curtidores. A partir de 2014, esse número passou para cerca de 6%. Em 2016, o número de pessoas para quem a postagem é entregue foi reduzido ainda mais. E essa é a tendência das outras redes sociais.
Quer que mais gente tenha acesso a seu conteúdo no Facebook? Pague. Hoje quem não paga pelo conteúdo está fadado a ter uma visibilidade quase nula. Vai abrir um canal no Youtube? Hoje em dia, as chances de se tornar relevante sem se enquadrar nas regras da rede são mínimas. Você até posta o que quiser, mas seu conteúdo não vai passar na “cláusula de barreira”. As empresas, ou quem as paga, decidem o que vemos. Estamos quase na posição de meros expectadores, como na TV e no rádio.
Assim é o capitalismo
Facebook e Google são empresas. Todo novo ramo capitalista começa com empreendedores cheios de novidades para agradar a clientela. Depois, como é da natureza do capitalismo atual, os monopólios se estabelecem e a coisa muda. Com a internet não seria diferente.
A internet já foi mais livre. A primeira rede social do mundo, o Centro de Mídia Independente, foi criada em 1999 por militantes de inclinação anarquista. Com o lema “odeie e a mídia, seja a mídia”, a rede social permitia que os usuários postassem suas próprias notícias. Eram os tempos em que baixar músicas e filmes livremente era fácil. Hoje a internet foi colonizada pelos grandes monopólios. Você vê o que o Google quer que você veja. Restou a Deep Web, que poucos acessam, como território de liberdade.
As ruas não têm algoritmo
As grandes questões políticas continuam sendo decididas como há centenas de anos: nas ruas. Ali não temos os filtros das redes sociais, os chamados algoritmos, que empurram o que dizemos apenas para quem já concorda conosco. Lá encontramos o trabalhador que vota no Bolsonaro por protesto, a senhora que acha que Temer é um governo razoável, as pessoas que estão indecisas sobre o ajuste fiscal. Lá encontramos quem realmente precisamos convencer.
O contato real continua insubstituível. É fácil dizer no Twitter que um estudante tem que apanhar. Dizer isso para um estudante de carne e osso olhando no olho é mais difícil. Os contatos reais tendem a gerar mais empatia. Quando você se dá conta de que está lidando com outro ser humano, a disposição para ouvir é outra.
A internet é uma entre várias ferramentas
Até a internet comercial já viu que o mundo real é a grande rede. Jogos lançados recentemente, como o Pokemon Go, fazem a pessoa a ir para espaços públicos procurar monstros virtuais. Internet não é mais para ficar em casa. Ela é parte do “mundo lá fora”. E assim é com a política.
As ocupações de escolas e universidade em 2016 foram uma boa experiência. O movimento real de estudantes acampados se somou às postagens, memes e transmissões ao vivo pelo Facebook. Na rede havia uma disputa acirrada entre o movimento estudantil e os que pregavam a desocupação à força. Na vida real, mais de mil ocupas ficaram de pé por vários dias, o que representou uma vitória.
A militância virtual é importante. Temos que nos aprimorar nela. Mas ela só faz sentido se for um suporte da militância real.
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Fonte: Esquerda Online.